As pestes( Coronavírus) que nos assolam

A peste está nos matando aos poucos nos hospitais de corredores lotados, nos choros das pessoas que perdem seus entes queridos, nas longas filas dos cartórios para pegar os atestados de óbitos. Matam-nos nas imagens dos cemitérios cheios de covas minúsculas, mas de dores incomensuráveis. Matam-nos quando andamos trancados numa máscara dupla aos domingos por uma cidade solitária, suja e cheias de papéis pelas calçadas com paradas de ônibus lotadas à espera sem fim por um ônibus.Matam-nos quando percorremos os caminhos de uma Redenção solitária, sem feiras, sem sorrisos somente com rostos e máscaras de olhos insanos.

Matam-nos na imensa solidão ao qual vivemos para não morrer por um vírus e torna-se um paradoxo, pois morremos mesmo assim por dentro de antecipação e medo. Matam-nos pelos olhares doentes de fome dos moradores de rua, pois desviamos de medo, não deles, sim da nossa consciência que vai nos dizer: sim, eles morrem mais que nós. Morrem de mortes duplas, triplas, morrem de Coronavírus, de fome, de desemprego e, principalmente, pela falta total de perspectivas.

Matam-nos na desesperança dos jovens, nas vidas duplamente ceifadas: os que morrem de verdade e os que morrem pela falta de sonhos, de vida, de brincadeiras e de amigos. Matam-nos os supermercados lotados, o preço alto dos alimentos, juros dos bancos, o aumento dos alugueis e principalmente o descaso absoluto dos governantes preso em suas torres de marfins livre da peste. Matam-nos a expressão ” vida que segue”, quando na verdade nada segue, somente nos segue são as mortes contínuas e duplas: as mortes reais e aquelas que matamos dentro de nós todos os dias. Ironicamente, às vezes, morremos por dentro para continuarmos vivos, nem morremos da peste que nos assola, sim de falta( de tudo) ao qual a sociedade foi exposta, neste momento, pelos seus governantes.

Mata-nos todos os dias um pouco, ainda assim vislumbramos, lá longe, um pouco de esperanças na longas filas de vacinação em que deixaremos a peste ir embora.

Marisa Piedras

Mestra em Letras

Professora Estadual

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 18/04/2021
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