DEVANEIOS DO OUTONO - BVIW

Aí vem você, pintando as folhas com novas cores, espalhando-as pelo chão, formando um tapete escorregadio e efêmero, levado pelos ventos que você mesmo patrocina. A paisagem é tão bonita, o ar tão fresco, que até me atrevo a sonhar com dias melhores, quando viver fica mais confortável. Chego a lhe ser grata por ter afastado o calor que fazia da vida nesta parte do planeta um suplício a ser vencido, mesmo para quem não se considera pecador.

Qual o que, outono, você não cumpre o que promete, indo embora logo agora que a utopia começa a tomar forma. Com esse ar de moço bom, você logo se despede, abrindo espaço para que o inverno nos faça encolhidos dentro de roupas pesadas, ensimesmados, fazendo parecer que a pandemia não terá fim. Veja o paradoxo - o inverno, com sua cara de mau - é a mais generosa das estações, pois abre mão de seu domínio e convida a primavera a tomar seu lugar. Essa sim, a estação dos devaneios, quando a vida volta a brilhar, brotar, florir, colorir.

Por tudo isso, outono, você merece um castigo: vou sugerir a essa crônica um novo título - Trapaças do Outono.