BUSCANDO A BOLA

Quando saiu com seu cachorrinho não imaginou o que pudesse acontecer.

Como era bom vê-lo correndo, atravessando a rua rapidamente! Envolto na mais pura alegria na companhia de seu amado dono, abraçando assim toda a beleza daquela manhã de sol e aprontando todas enquanto balançava o rabinho de contentamento.

Dono e cão ambos felizes brindavam o novo dia numa alegre caminhada admirando o movimento do transito que ainda era pouco na manhã e a natureza que se descortinava ao longe salpicada pelo tom amarelado do sol recém-nascido. O passeio dos dois tinha o perfume da mais bela flor e o encanto da mais tocante poesia. A vida era mais vida naquele renascer de dia.

Apertava entre as mãos uma pequena bola, que ao ser pressionada produzia um som parecido ao de uma apito, e a jogava longe só para ver o bichinho correr até ela. Voltava feliz abanando o rabinho trazendo-a entre os dentes. E novamente a bola era arremessada, fazendo voar pelos ares mais uma rajada de alegria.

Nossas atitudes muitas vezes são impensadas e não nos preocupamos em analisar as possiblidades e nem em medir as consequências do desdobramento dos nossos atos e do quanto eles podem nos causar sofrimento. Pensamos muitas vezes apenas no presente e no prazer que sentimos sem a mínima previsão de um futuro por mais próximo e evidente que seja. Só o embalo do momento, do prazer e da ideia infalível de que somos infalíveis nos domina. Um ato impensado, e o pior acontece.

Num certo momento jogou a bola sem olhar para os lados, arremessando bem para o meio da rua e não percebeu o desastre que estava para acontecer. Não viu além, não previu, não pensou...

O cão saltando e exalando vida foi buscar a bola e trouxe a morte em seu lugar.