Sofia Nas Nuvens

Sofia tem o olhar perdido e um sorriso mole nos lábios. Ela caminha como se pisasse em nuvens, movimenta os braços com a graça de uma bailarina. Não, braços não: asas. Pétalas.

Sofia é uma flor, exala o perfume da primavera por onde passa.

Sofia não ouve nada senão a música em seus ouvidos. Vem de dentro, instrumentos de sopro e corda em sintonia com o coração, que anda percutindo uma melodia desconhecida e apaixonante. Ela segue a música de seu próprio corpo enquanto flutua pelas ruas da cidade.

Não enxerga um palmo diante do nariz, apenas desvia sutilmente dos obstáculos chamados gente, sem tocar em nada nem ninguém. Mas todos vêem Sofia. Ela é maior que o mundo, do alto do seu metro e sessenta.

Porque ela sorri, ainda que mole e sem controle. E tem nos olhos aquele brilho profundo, que só olhos que realmente espelham a alma têm. Alma de luz própria, a de Sofia. Recém acesa por um estranho, com uma tocha nas mãos, montado em um cavalo branco. Veio a galope e pegou-a desprevenida. Quando deu por si, já não podia dormir com o calor e o excesso de luz da alma acordada.

Sofia senta-se na cama com os pés frios e as mãos úmidas. O estômago faz barulhos que não deveria, mas é claro, Sofia esqueceu-se novamente de comer. Não tem apetite. Não tem sono. Tem apenas o tal sorriso mole e os olhos perdidos, que com o brilho clarearam ainda mais. Incansáveis, aquelas meninas verdes, meio amareladas, inquietas, despertas.

Ela deita-se fitando o teto. O sorriso abre um pouco, ainda descontrolado, trêmulo, e ela pousa as mãos sobre o estômago, como que para acalmar as borboletas.

Sofia está amando.

Voodevilish
Enviado por Voodevilish em 05/11/2007
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