Pelo Visto

Como deve ser 1 mamãe, quando verdadeiramente, Mãe!

Admito que tudo é questão de ponto vista, mas a vida e o Planeta poderiam ser redondos, se os mestres construtores e artesãos não os fizessem quadrados, com as arestas pontiagudas, cortantes, ferinas.

Enquanto se preocupam com coisas grandes, valiosas, ostentadoras; Eu tenho olhos para o inócuo, para as coisas sem valor, para o nada, para o singelo.

Nesta manhã fria, a qual o fino sereno era cortado pelo vento, saí para pedalar uns 40 km no entorno de Conservatória. Obviamente, após um virtuoso, despertador e aquecido café.

Rodovia vazia. Asfalto, relativamente molhado. Silêncio quase absoluto. Quase porque bem-ti-vis, maritacas e saracuras gorjeavam e guinchavam, nunca cantoria ruidosa. Louvada Natureza que não me deixa pedalar sozinho; pois ouvir o alarde da Natureza, é estar em contato com o sagrado.

Montículos verdejantes remontavam montículos; cuja fenda formada por eles,

pincelava a paisagem, ao longe. Mais acima, um céu nebuloso emoldurava o quadro natural, intermediando o diálogo entre a paz e o silêncio encorajador.

Entre olhadelas no paradisíaco horizonte e na cumplidade das margens da rodovia, sigo pedalado.

De repente, uma tolice me fascina. Simplesmente, era uma Galinha deitada na parte elevada do barranco. Curioso, parei para reparar e estudar o porquê daquela majestosa penosa estar naquele lugar pouco relvado, frio e úmido. Perguntava-me: "teria Ela, tomado o desjejum, como Eu fizera para sair à intempérie"? Tola pergunta, claro, Ela jamais iria dizer por que estava ali, àquela hora. Sempre soube que os galináceos cacarejam.

Delicadamente, toquei-a com o pé. Arrepiou-se! Como não estava para brincadeiras, bico, para que preciso de bico afiado? E tome bicadas: uma, duas, três, várias! Se não resolve com bicadas, tome unhadas: uma, duas, três; várias. Porém, ao levantar-se para lançar o pescoço em bicadas, alguém a denunciava. Quem eram os denunciantes?

Ora, uma linda e indefesa ninhada de pintinhos. Foi vê-los, minha curiosidade se desfez. Contemplei mais um pouco o zelo de uma verdadeira Mãe, indo imediatamente procurar socorro; o que não deveria estar longe, dali.

Deveras, comuniquei uma senhora no bar mais próximo. Assim que ouviu o pedido de socorro em nome da cuidadosa mamãe Galinha, gritou para o seu pai que estava no andar de cima da casa: "pai, vá buscar a nova mamãe do terreiro. O moço disse que está com uma ninhada de filhotes.

- com uma ninhada de mocinhas e mocinhos empenujadinhos, lindos por natureza e saudáveis. Resgate-os, antes que sejam vistos por olhos desejosos. - completei.

Feito o trabalho, prossegui malhando os pedais; bem como malhando a mente, pensando que ainda tenho olhares para as coisas tolas. Não menos, para as coisas singelas. Inócuas. Sem valor, porém majestosamente, belas; mesmo porque, beleza é o que não é visto, mas sentido pelo coração.

O caminho de ida, é o mesmo da volta; e ao passar pelo local onde descobri a tola beleza, a mamãe não estava lá.

Certamente arrumou um lar mais apropriado para abrigar e cuidar da prole; pois acima de tudo, em terra de gatos, cães, cobras, raposas e pés, mãos e mente de homens estranhos, o perigo de morte é iminente.

Sabendo-se disto, auxiliar e salvar o que for possível, deveria ser lei primeira entre os maus; e os bons, também! Sobretudo, porque, bondade não requer palavras: pratica-se!

Parabéns, Mãe Galinha, pela seriedade e gentileza ao defender a ninhada, aprendi muito com seu instinto maternal.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 29/04/2021
Reeditado em 09/05/2021
Código do texto: T7244350
Classificação de conteúdo: seguro