Me venderam o que eu não posso ter

Me venderam o que eu não posso ter. E depois de pedir dinheiro pra Deus e o mundo, e depois de vender coisas minhas que não tinham preço, me encontro na difícil tarefa de decifrar como recuperar o que perdi e como pagar a quem devo. Me venderam algo que não posso ter e, eu, maravilhada com a ideia, comprei. O discurso era envolvente e ensurdecedor: eu não conseguia escutar outra coisa. A voz revestida de carinho e zelo me repetia as mesmas palavras ao acordar e antes de dormir. Era insistente e não resisti, comprei. Me venderam o que não posso ter. E agora, arrependida, tenho que carregar o peso da escolha, da perda, da frustração. O vendedor, bem o vendedor não vê problema no meu prejuízo, nos meus choros baixinhos e escondidos ( não quero que ele saiba que eu fiz um mal negócio ). O vendedor julga, vai dizer que eu que errei na hora de assinar os papéis. Não posso processá-lo: a culpa certamente será minha. Alguém discordaria? Afinal, eu que quis acreditar. Me venderam algo que não posso ter. E agora? O que faço? Sumo? Não tenho como pagar toda essa gente pra quem eu pedi dinheiro. Serei uma foragida? Meu nome ficará sujo? Mas isso importa? E as coisas minhas que perdi, que vendi? Essas eu sei que não têm volta. Me peço perdão por isso. Perdoar-me-ei algum dia? O peito dói sempre quando penso nisso. Me venderam o que não posso ter. Ao menos, sei hoje que não posso ter: não cairei mais em propagandas enganosas, e não sairei procurando por isso nas vitrines. Estou falida de qualquer forma.

Mari Verona
Enviado por Mari Verona em 10/05/2021
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