MAS SE VOCÊ VISSE O TAMANHO DA MOITA...

Fui chamada para dar socorro a uma pessoa que fora picada por cobra. Evidentemente, não me neguei a ajudar.

Havia pouco tempo que eu tinha me mudado para a área rural. Fui morar no campo, longe dos perigos da selva de pedras e ainda não estava acostumada aos perigos da selva real.

Dona Cida era uma senhora acostumada a andar na mata, cuidadosa consigo mesma e com todos a sua volta, mas foi acometida por uma situação desastrosa.

Então, durante a trajetória para o socorro médico, eu me perguntava: como poderia uma pessoa que convivia constantemente aos perigos do campo, de repente, ficar tão displicente quanto a sua própria segurança e imprudente a ponto de se expor a tamanha tragédia?

Por isso, curiosa, quis saber o porquê.

− Dona Cida, o que aconteceu, por que a senhora não usou as botas? – perguntei cheia de dó da pobre coitada.

Com as mãos tremulas ainda sujas de terra, calejadas da lida na roça e visivelmente atormentada pela dor, ela me respondeu.

− Mas, minha filha, se você visse o tamanho da moita! – disse, com a voz embargada e a surpresa estampada em sua cara.

Depois dessa simples declaração, eu viajei calada em uma profunda reflexão.

Realmente, têm certas moitas que aparentam ser tão inofensivas que costumamos menosprezá-las. Porém, não são as más aparências que devemos temer, mas sim, os perigos que as boas aparências costumam esconder.

São as moitas de aparência menos ofensivas que devemos dar a devida atenção. Por causa dessas que nós nos tornamos descuidados. E, às vezes, são nessas que se escondem os maiores perigos.

Quantas vezes nos deixamos enganar com as pessoas que se mostram inocentes, bondosas e amigáveis? Para momentos depois constatarmos que não passavam de pequenas víboras armando botes para nos atacar?

Acostumamos julgar tudo pelas aparências, como se a aparência fosse o suficiente para avaliarmos a essência. Mas o certo seria que nos certificássemos de que o conteúdo é condizente com o rotulo estampado. Pois, depois que nos expomos ao alcance de tais víboras a picada é inevitável. E aí, só nos resta esperar para ver as consequências do veneno injetado.

Na verdade não são as moitas que são perigosas, mas sim as nossas ações diante delas. Pois, se tomarmos os devidos cuidados, nós não nos tornamos tão vulneráveis a um perigo desnecessário.

"...mas se você visse o tamanho da moita..."

Não, eu não vi. Mas imagino o quanto insignificante que era.

Dona Cida eu nunca mais vi. Não sei se sobreviveu ao veneno da cobra, mas com certeza nunca a esquecerei. Pois com ela aprendi a não ser descuidada diante de uma moita, tendo ela a aparência que tiver; e que devemos sempre estar atentos ao nos aventurarmos nas selvas, sejam elas de pedras, sejam elas da mata; e que se não aprendemos com os erros dos outros, sofremos as consequências dos nossos próprios atos.

E você, já viu uma moita assim? Tenha cuidado com as moitas, sempre pode haver um perigo escondido dentro delas.

Jussara Pires
Enviado por Jussara Pires em 21/05/2021
Reeditado em 21/05/2021
Código do texto: T7260494
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