(Arquivo pessoal)

De volta a Inhotim
 
 O vocábulo Inhotim origina-se de Timothy , nome de um inglês responsável por uma fazenda pertencente a uma mineradora no século XlX, aqui nas Minas Gerais. Como somos mestres em economia   das letras, Timothy  "virou" Tim e na linguagem local, "Nhô Tim,"  posteriormente, Inhotim. As primeiras sementes lançadas à terra foram pensadas na  década de 1980, em conversas entre o maior paisagista brasileiro do século XX, Roberto Burle Max e o empresário mineiro, colecionador de arte e idealizador do Instituto Inhotim,  Bernardo de Mello Paz.

Em 2010, estive duas vezes em Inhotim, a primeira visita com uma turma de alunos do Ensino Médio e alguns meses depois, voltamos, nós professores, juntamente com a nossa tão querida supervisora Solange,  um presente e tanto da direção da escola por quem tenho muita gratidão. Após tanto tempo confinados, decidimos, meus filhos e eu, retornarmos a Inhotim, com todos os cuidados que se fazem necessários. Ao chegarmos em Brumadinho, como não me lembrar do poeta itabirano?
"O Rio? É doce
A Vale? Amarga"
(...)
Reflexões de pesar e daí a alguns minutos fomos  abraçados por essa localização privilegiada da Mata Atântica e do Cerrado. Sentimo-nos bem-vindos! Inhotim continua impecável, constata-se logo na entrada que é mesmo um dos museus mais importantes da América Latina. Embora haja uma distância considerável entre  pavilhões e galerias, preferimos as   passarelas de pedras aos carrinhos elétricos, tempo precioso na contemplação das  palmeiras australianas, tailandesas, das obras  a céu aberto, dos pavilhões e quando necessário, descansávamos  nas formosuras  dos  bancos esculpidos pelos artistas, a partir das árvores caídas.

Considerado um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e também um dos maiores museus a céu aberto do mundo, arte e natureza num abraço recíproco nos acolhem em momentos de rara beleza. Cerca de setecentas obras de artistas nacionais e internacionais são exibidas ao ar livre e em galerias, tendo como expectador, um jardim botânico com mais de quatro mil e trezentas espécies botânicas raras, vindas de todos os continentes. Música, escultura, pintura, fotografia, lagos ornamentais nos causam as mais poéticas sensações. A impressão que se tem é que Inhotim é paupável e que  essa fidedigna integração  entre o homem, a arte e a natureza, acalenta nossa alma na mais sublime harmonia. 

Por sugestão de minha filha, fomos visitar o pavilhão "Som da Terra", de Doug Aitken,  artista norte americano. O guia local nos informou que o Pavilhão sônico é uma obra desenvolvida a partir de um processo de cinco anos, entre pesquisa, projeto e construção. A obra traz um furo de duzentos metros de profundidade no solo, para nele  se instalar uma série de microfones e captar o som da Terra em tempo real, por meio de um sofisticado sistema de equalização e amplificacão, no interior de um pavilhão de vidro, vazio e circular.  Ouvir o som da Terra, experiência indescritível.  Em mim, aconchegou-se a poesia   e só pensava o quanto 'Ela' tem a nos dizer, senti-me tão pequenina, até com saudades daquela menina de tempos longínquos...
Hora de nos despedirmos daquele entardecer silencioso, das cores vibrantes da obra de  Hélio Oiticica, da elegância do cisne nos espelhos d'água, da florzinha singela, escondida entre as suntuosas palmeiras...
Inhotim é assim, quem vem, quer voltar!  
Contemplar, contemplar e contemplar...




 
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 25/05/2021
Reeditado em 28/05/2021
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