O PROFESSOR

Falava inglês pelos cotovelos furados do terno marrom amarfanhado. A pronúncia caprichada, o sotaque insuperável, a ponta da língua entre os dentes, o cuspe espinando em quem passasse. Os alunos prometiam levar guarda-chuvas para a sala de aula. Falava alemão. E, diziam, até latim. Os idiomas dançavam o fox-trote, o sapateado, a polca, o can-can, o flamenco, dentro daquela boca privilegiada, cheia de línguas. A articulação dos fonemas, meu Deus, era exemplo dos exemplos! Também... com todos aqueles dentões um tanto perolados.

Ali sim! Ali sabe! Ele é o bom! Em se tratando de língua estrangeira ele dá um baile. Aliás, dá banho! Sabia que ele não toma banho? Debaixo daquele terno amassado há de tudo. O cheiro é muito forte, azedado.

Línguas rudes do país dos maledicentes.

A canoa virou? Só assim ele tomava banho. Línguas ferinas de fácil aprendizagem.

Good morning! Guten morgen! Bon-jour! Ça va! Adieu, professeur. Bye, teacher. Posso ver na minha mente os olhos penetrantes e cheios de autonomia do professor poliglota.

14/03/2005