Se gerasse lucro

Quando penso em expandir,

Como um gás que exala pela extensão infinita,

Vejo que estou sob efeito de mim mesmo.

Uma carapaça envolta que reveste a massa visceral.

E a cor da percepção toma pigmentos que se destacam

Em tons que confundem a visão.

Enxergar é só diferenciar que o estático é oposto ao móvel?

E dentro dos ouvidos suntuosos a voz do silêncio faz a pergunta;

Escutar é só diferenciar os sons diversos e adversos?

Penso que todos existem, mas na verdade são apenas formas,

São gestos, são ilusões, são desejos, são cartões de créditos,

São sapatos de couro, são vestes requintadas, são a boca pedindo comida.

São filhos sem pais, são desgovernados, são fruto de uma arvore sem folhas,

Cria de um ventre cicatrizado, são as feridas que viram trilhas de sangues, são uns amontoados, aglomerado dentro de um monte de paredes, janelas e tetos, são os líquidos que percorrem o organismo, são os espantalhos que desbotam no sol...

Na verdade somos... Cria farta de uma sobrevivência sem essência, que para os sentimentalistas se torna facunda.

Nem os Deuses sabem proteger mais, mas proteger pra que?

Se proteger gerasse lucro.

Essa decadência revestida em tudo, um mero ser maltrapilho que cospe o ultimo catarro que fica grudado nos pés das senhoritas com seus sapatos italianos.

E a matéria orgânica da putrefação um desejo intermitente das bactérias, se alimenta, se sacia, se molda em formas, cresce desaparece...

Assim como nós, como os outros, como os defuntos ornamentados, esperando o momento para cair na cova, como uma galinha caipira com a faca no pescoço.

Nem os Anjos sabem amar mais, mas amar pra que?

Se amar gerasse lucro.

E dentro das bolsas das prostitutas tem moeda estrangeira, dólar, euro...

A maquiagem dissolve-se, agora a face exposta, sem respostas.

Os seios fartos, as nádegas volumosas, a boca carnuda, a compaixão desnuda.

Vícios, sexo, vontade, prazer, cura, insatisfação... Realismo.

Nem os Santos fazem mais milagres, mas milagre pra que?

Se milagre gerasse lucro.

As mãos expostas reverenciam o irreverente, o que não existe.

Talvez, talvez, referenciam a nós mesmos.

No escuro os olhos pálidos criam os vultos, que vão e voltam;

Fugir pra que? Se nem isso gera lucro.

As gargantas exalam seus gritos, acorda quem dormia debaixo das marquises.

Agora a fome esta ativa, mas a “água na boca” mata a sede.

O cardápio do dia é a alma empanada, o espírito moído.

E a sobremesa um doce desengano.

Nem os palhaços fazem os pestinhas sorrirem mais, mas sorrir pra que?

Se sorrir gerasse lucro...

Garrafas vazias, ilusões engarrafadas, visões conturbadas,

O corpo balança como um “João Bobo”.

Enigmas, repressões, depressões...

A mente alterada tristeza adiada.

Nem os sobreviventes querem viver mais, mas viver pra que?

Se viver gerasse lucro...

A corda no pescoço, o último adeus.

O que fica pra trás são dos outros agora

E o que nos pertence são as lagrimas que não caem

O latido do nosso cão, e o arrependimento por não terem feito.

Nem os mortais querem morrer mais, mas morrer pra que?

Se morrer gerasse lucro...

Rommyr Fonttoura
Enviado por Rommyr Fonttoura em 07/11/2007
Reeditado em 07/11/2007
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