Um estranho a mais

Era uma menina estranha.

Com amigos estranhos.

Era uma menina estranha com os amigos mais estranhos do mundo.

Era uma menina estranha numa época em que ser estranho te deixava a margem de qualquer regalia ou admiração. Ser estranho era justamente o oposto de ser adorado. Por isso, ela não se importava em ter os amigos mais estranhos, porque, juntos, eles nunca eram estranhos sozinhos.

Talvez, ele também fosse um menino estranho, afinal, ele estava com amigos também estranhos, numa cidade que era a definição da estranheza em si. E de maneira quase coreográfica, foi orquestrada a deixa daqueles dois sozinhos.

Os olhos dela mal se viam por trás da franja, o sorriso dele mal se via por trás do aparelho, mas isso não impediu de serem estranhos naquela breve noite adolescente que não prometia muito além de uma praça vazia e um monte de beijos nada roubados, tudo menos roubados. Eu diria até que consensuais demais!

Números trocados, SMS trocadas, novos encontros trocados. Por uma semana, ele era parte da rotina estranha dela e fazia parecer menos insuportável ser diferente dos outros. Inconscientemente, o menino estranho criou um padrão dentro dela: garotos legais fecham os olhos quando sorriem.

E garotos legais vão embora quando as férias acabam.

Garotos legais encontram garotas legais perto deles e as vezes elas tem o mesmo nome daquela menina estranha das férias de verão.

As vezes, pessoas estranhas existem para criar momentos de conforto na vida de outras pessoas estranhas, para que elas se lembrem que existe um pouco de beleza em se destacar da multidão. E por mais que amores de verão sejam o maior clichê da humanidade, permitir que as lembranças existam através do tempo e guardar todos os detalhes faz com que a sensação boa perdure.

Talvez, em alguns anos, ela seja uma mulher estranha com amigos estranhos e ele seja um homem estranho com amigos estranhos. Mas, definitivamente, menos inseguros da própria estranheza do que quando se conheceram.