farofa de nada

sentávamos os dois irmãos mais velhos ao redor da mesa de madeira desgastada da cozinha. os pais dormindo e nossos corpos de adolescentes com uma fome sem fim, de quem gastava todas as energias correndo pelas ruas atrás de bolas, pipas ou outra qualquer diversão.

vamos fazer farofa de nada?

vamos! estou com fome.

no geral ia para a frigideira: óleo, sal, corante e farinha. vez por outra uma cebola, cercada do medo de mãe descobrir que mexemos na geladeira sem sua permissão.

rápido como quem rouba, comíamos o "banquete seco" regado à saliva... o que nos garantia forças para correr pelas ruas o resto da tarde e início da noite, se a quadra de futsal fosse iluminada naquele dia.

antes eu era pobre... agora sou miserável!

lutando pela vida, como a sociedade capitalista manda, hoje tenho dinheiro para fazer uma "farofa de tudo", mas o individualismo e a vida solitária me mostraram que o gosto da "farofa de nada" era o companheirismo entre dois irmãos...

Nômade
Enviado por Nômade em 13/06/2021
Reeditado em 13/06/2021
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