Numa certa segunda feira
O dia surgiu nublado e frio. Um sol fraco tentou aparecer, mas sem sucesso. Ainda sim prefiri descer do ônibus e seguir o caminho de casa andando.
Aquela mesma rua em que passei parte da minha infância, rua que eu corria com um uniforme amassado e um tênis surrado.
Tirei o fone do ouvido e me permiti ouvir os barulhos de pessoas apressadas, buzinas e som dos carros e ônibus. Enfiei as mãos nos bolsos e segui.
Havia um novo sebo com livros e discos. Mais um lugar para garimpar, pensei e sorri.
Passei em frente ao muro pintado com arte de grafiti da escola, e vi um outro eu. Um garoto encostado, de braços cruzados esperando o portão abrir e os amigos chegarem. Suspirei e segui meu caminho. A antiga papelaria que ficava na esquina havia sido substituída por uma loja de roupa. Aquela rua era tão diferente de antes. "Tudo muda e nada se perde" disse um filósofo uma vez, mas ainda me sentia perdido. Deslocado de um tempo em que não vivia mais. Como a antiga papelaria que não estava mais ali, será que eu também não pertencia mais a esse lugar? A velha melancolia e sensação de vazio havia voltado. Procurava algo que não sabia o que era. Sobrados haviam caídos, terrenos com prédios modernos surgiam e o céu continuava cinzento, frio e sem chuva. Segui o caminhonde volta para casa. Não adiantava, não seria hoje que eu encontraria o que eu perdi. A arte de viver a vida...
Wesley R. Curumim