A MATINÊ

Durante uma dessas tardes de domingo, da Pandemia, fiz uma viagem de volta à minha adolescência, quando eu e minha prima, ambas com 14 anos, íamos, em companhia de minha mãe, aos Cines Anchieta, Samarone, Itapura, no Ipiranga, ou no Art Palácio, Metro, República, Paysandu, Olido, salas de luxo e muito bem cuidadas, no Centro de São Paulo, e até o moderníssimo CINERAMA, com sua tela gigante e som estereofônico, onde se via o “cavalo do Mocinho” atravessar a tela da esquerda para a direita, e o ruído de seu galope sumia do lado esquerdo e continuava do lado direito. Um furor!!

O estranho era quando, no filme, passava um trem ou um avião , ou mesmo um automóvel, pois a tela, por ser côncava, a imagem ficava um tanto deformada, parecendo que os veículos se dobravam no meio... mas era a ALTA TECNOLOGIA dos anos 60: O CINEMASCOPE!

Agora, problema mesmo, era quando assistíamos filmes nacionais do Mazzaropi, com seu som Mono, que vinha com chiado, e às vezes, entrecortado, nos obrigando a prestar muita atenção para conseguir entende o que os atores diziam.

Mas nos salões de espera, onde aguardávamos abrirem-se as portas da sala de espetáculo, ficavam umas simpáticas jovens vendendo DROPS, redondinhos, ou os novíssimos DULCORA (embrulhados um a um), FRUNA,(uns caramelos fininhos com sabores variados de frutas que traziam de brinde fotos de artistas norte americanos), CHICLETS ADAM"S (Hortelã - caixinha amarelinha e Tutti-frutti - caixinha rosada) e também os famigerados amendoins torrados salgados, ou como praline glaçados com caramelo crocante, os dois eram vendidos em saquinhos de celofane finos e compridos, de uns 20cm que quando manuseados provocavam um ruído seco de gravetos se quebrando, irritante.

Nos momentos mais interessantes do filme, o “ilustre espectador”, na poltrona de trás, da frente ou do seu lado... enfiava os dedos até o fundo dos saquinhos, para pegar um amendoim (shaack, shack, sheck, sheck, sheeck...) fechava o saquinho, colocava o amendoim na boca e o mastigava nervosamente: (CRACK!CRACK!CRACK!!CROCK!CROCK!!CROCK...) engolia, e repetia tudo outra vez, ou seja: o ruído do celofane, e o da mastigação, rivalizavam, para ver qual era o mais alto e irritante.

As mocinhas passavam também durante o intervalo das sessões, para quem quisesse mais. Como as sessões eram de duas até três horas de duração, com a apresentação do Canal 100 com as vitórias do Futebol Nacional sob o som da música "Na Cadência do Samba" com a frase que não saía de nossa cabeça:"...Que bonito é!...", os trailers da próxima semana, e um filme antes do intervalo e outro depois, todos compravam o amendoim salgadinho e voltava a disputa entre o abrir e fechar do saquinho e a mastigação.

E ambos GANHAVAM!

Mas ganhavam era do péssimo som do filme.

E quem perdia era a plateia.

Pois não dava pra entender nada!

Memórias de um tempo distante...

Cléa Magnani
Enviado por Cléa Magnani em 17/06/2021
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