BAITA CONFUSÃO

Eu nasci no meio de uma grande família que tinha envolvimento com a música. Meu bisavô materno foi o fundador da Folia de Reis, denominada Lago e Melo, que tem sido mantida por mais de oitenta anos. Meu pai era cantador mas não tocava instrumentos, então não tivemos instrumentos musicais na nossa casa.
Depois de muitos anos, meu filho já adolescente é que comprei para ele um violão e acabei por me interessar a tocar.
Tentei sozinho mas não evoluí nada, eu era teimoso, como sempre fui, mas mesmo assim não aprendi.
Quando as prioridades permitiram, eu me permiti pagar um professor. Tive a sorte de ter encontrado um sujeito já muito vivido no mundo musical, que por temperamento ou outras questões que eu apenas imagino, ele não permaneceu como músico nos círculos que ele me contou que frequentou e tocou.
Digo que tive sorte no sentido de que ele era muito aprofundado nas harmonias e me fez viciar nelas, mas também me custou caro em outros sentidos, pois exigia conhecimento que eu demorei demais para entender, o que só consegui na faculdade, enquanto se tivesse aprendido o mais simples eu teria me divertido muito mais nas rodas de amigos.
Ele tinha na sala dele, entre as coisas que me lembro, um berimbau e um afoxé. Gostava de ficar brincando com aquele afoxé. Instrumento até certo ponto bem simplório.
Um bom tempo depois, nem aula mais com ele eu fazia já há bastante tempo, meus filhos cursando faculdade na cidade de Campinas, chegou perto do dia dos pais e me perguntaram o que eu queria ganhar e eu respondi que queria ganhar um OBOÉ, confundi, coitados, afoxé com oboé. Eles eram meus dependentes e certamente iriam comprar meu presente com o dinheiro da mãe deles ou com alguma economia daquilo que eu repassava para eles.
Naquele tempo não existiam ainda as opções dos instrumentos chineses, que hoje permite encontrar instrumentos bem mais em conta. Calculo que um oboé deveria custar uns oito mil reais se fosse nos dias de hoje. Um afoxé, talvez uns cinquenta reais, não sei ao certo.
Acho que passaram vergonha nas lojas de instrumentos querendo me comprar um oboé, que nem é dos populares, muitas lojas não tinham e só por encomenda trariam.
Vieram me perguntar, não me lembro bem o nosso diálogo, mas deu trabalho para esclarecermos essa confusão, pois eu teimava com eles que era um instrumento bem barato, o problema é que na minha cabeça o nome era oboé.
Não sei tocar, nunca tive um em minhas mãos, mas o oboé é um dos meus timbres preferidos nas composições. Acho muito lindo.
 
JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 19/06/2021
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