O SÃO JOÃO EM MINHA TERRA

A Festa de São João, uma das mais animadas da nossa região, comemora-se na noite do dia 23 de junho, e assim como todas as festas juninas, não difere, em sua essência, daquelas de outras regiões do País.

É importante ressaltar que o São João, festa de origem europeia, mas totalmente adaptada ao Brasil, é, na verdade, comemorado em todo o território nacional, sobretudo no Nordeste, com a realização de quadrilhas, fogueiras, ornamentação de ruas e residências, queima de fogos e também a tradicional cozinha típica regional, com base no milho, na goma de mandioca e outros. É a alegre e maravilhosa tradição dos festejos juninos.

Cumpre destacar também a fabricação de variados bolos caseiros em fornos rústicos de tijolos de barro cozido, que eram aquecidos com lenha, e situados de modo geral no quintal, ou terreiro de dentro, como se costuma chamar aqui no interior. Esses bolos, quase sempre de milho ou de goma de mandioca, como roscas, petas, pão-de-ló, bolo de milho e outros, eram assados em fôrmas ou depósitos de flandres apropriados, sendo alguns, como o delicioso bolo corredor, assados no forno, enrolado na folha verde de bananeira colhida nos nossos sítios. Depois, assava-se no forno, também, na ocasião, um leitão ou uma leitoa, hoje denominado de “à pururuca”. Tudo isso transcorria quase sempre na tarde que antecedia imediatamente à noite de São João, assim como nas tardes da véspera do Ano Novo, aqui no meu bairro. Assavam-se, ainda, na brasa da fogueira, carnes-de-sol, línguas bovinas, linguiças e outros.

A fogueira, armada no terreiro com lenha verde e com o acréscimo, às vezes, de algumas madeiras secas, acendia-se (ou era incendiada) geralmente à tardinha, ou nas primeiras horas do anoitecer daquela alegre e festiva noite, Noite de São João. O cheiro da comida e a fumaça da fogueira em chamas espalhavam-se por todo o terreiro, aliados ao cheiro de pólvora queimada proveniente dos estalos de salão (bombinhas de salão), dos busca-pés, das velas “chuvinhas”, das cobrinhas e dos fragorosos traques, bombas juninas e fogos de artifício, que divertiam a criançada e a família que se reunia na calçada e em torno da fogueira no terreiro, degustando os bolos, carnes, bebidas (e refrigerantes); ou em alguns lugares, um copo de aluá, uma bebida refrigerante, feita com base em farinha de arroz ou milho torrado, que é fermentado com açúcar ou rapadura comumente em potes de barro. Foi há muito tempo. Alguns até faziam aquelas conhecidas e tradicionais “experiências” e simpatias típicas das festas juninas. Há de se destacar que em algumas outras localidades havia sempre alguém que se atrevia a soltar balões, os quais subiam aos ares e passavam alto por sobre a nossa região, colorindo aquele céu noturno do Sertão.

Além disso, ouviam-se no rádio de pilhas (depois em toca-discos/radiolas...), músicas condizentes com aqueles momentos juninos de transcendental animação. Eram forrós de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marinês e tantos outros do mesmo gênero musical, e que faziam sucesso naquela época. Ah, que saudade daquelas saudosas noites de São João na casa dos meus pais! Realmente, não dá para esquecer aqueles momentos felizes e festivos das antigas noites de São João da minha infância, adolescência, mocidade... Velhos tempos que não voltam mais!

As festas juninas, festas do povo, fazem parte do nosso folclore, e são, como já citei acima, manifestações de âmbito nacional, e, portanto, de extrema importância na vida de todas as comunidades. Porém, não há dúvidas de que é aqui no Nordeste onde, na verdade, essa tradição tem maior respaldo e brilho.

Do meu livro Memórias do Tempo.

Edimar Luz

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 23/06/2021
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T7285334
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