Em busca da imagem perfeita.

Sempre fui alguém ligado às imagens. Quando elas não existem (o que é praticamente impossível), eu as crio na imensa tela interna do meu pensamento. Os estímulos chegam e eu os transformo. Aos poucos, vão compondo o meu acervo mental (verdadeiro museu de formas e cores virtuais com direito a enorme reserva técnica). Penso em algo e logo vem a imagem na minha cabeça.

Não há um só dia em que os flashs de cenas vistas, vividas ou ouvidas por mim não brotem e mudem o cenário. Algumas são recorrentes. Dentre elas, eu cito a de uma senhora atravessando uma ponte de cordas sobre um rio na China. A anciã carregava um feixe de lenhas atado a sua frágil cabeça de peles gastas em décadas de vida dura. Fui remetido imediatamente ao “comerás do suor do teu rosto e em fadigas obterás o teu pão”. Desde sempre, a luta pelo sustento tem sido um fardo. Não encontrei a fotografia dessa senhora. Ela certamente já se transformou em pó. Talvez antes mesmo de eu chegar a vê-la. Deve ser por isso que não consigo acessá-la na grande rede. Talvez seus valores estejam desaparecendo. Vivemos num mundo onde se procura obter tudo sem esforço ou a qualquer custo desde que esse custo seja pago por outros.

Continuei minha busca na Internet e encontrei pelo caminho outras imagens que me levaram para longe do meu objetivo. Eram interessantes, porém não satisfaziam o meu objetivo. Algumas estavam próximas, outras distantes. Havia as valiosas para outras pessoas. Nessa busca, não levei um conta outros aspectos, necessidades minhas e dos outros, passei de largo como também o fizeram os indiferentes transeuntes diferentes do bom samaritano. As imagens vinham para mim e encontravam as pedras do meu olhar. Ficaram todas rasgadas. Os cuidados excessivos cobriram outras. Algumas encontraram recepção nas minhas retinas. Fui em busca do que queria e acreditava ser o melhor, o ideal. Não encontrei, todavia a vivência não foi em vão, pois encontrei algo inusitado: as pontes firmadas no meu olhar. Com elas vou unindo os pedaços de mim aos pedaços dos outros. É a conexão, a teia. Agora sim, unidos, eu descubro o que precisava ver: a vida diante de nós como cena, cenário e atuação simultâneos. Eis a grande obra. Nós somos seus traços vivos. Meu desejo é nunca desbotarmos.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 27/06/2021
Código do texto: T7287578
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