Se não fosse eu não seria

Sabe quando você não tem nada pra fazer no momento em que você está cheio de coisas a fazer? É... tipo quando agente quer mandar todos e tudo se fuder, quando ta enjoado ou simplesmente não quer saber de merda nenhuma. Trabalho escolar? Trabalho de casa? Trabalho de carteira assinada? Não! Que saco, quero apenas fazer o que quero, escrever bobeira, ensaiar umas músicas, ser o legítimo vagabundo ao modo capitalista de se rotular. Quero ser aquele cara que não trabalha, que por isso acaba por ser mau caráter, um lixo social, quero ser aquele mendigo que fica rindo o dia inteiro, esperando alguém que trabalhou o dia inteiro ficar com uma dó tipicamente cristã e me dar almoço ou resto de algum rango. Quero falar manso, pausadamente, gírias do norte ao sul do Brasil, quero não ter sultaque, não preocupar com relógio e lógico, não ter hora pra dormir ou acordar. Quero viajar, tanto em pensamentos, no tempo, no Brasil e na América. Ser um moderno ripeeeeee, daqueles que vendem artesanatos pra comer do barato e tomar banho em hoteis com barata.

Mas infelismente não dá, minha mãe morreria se eu fosse quem eu quero ser, podem até me criticar, mas eu a amo mais que eu, se não nem estaria escrevendo aqui, estaria na estrada, na rua, no passeio te pedindo comida ou sei lá, um trocado pra uma pinga.

Dá pra viver como estou vivendo, coloco meu sorriso no rosto, comprimento as pessoas, dou uma gargalhada da boa, daquelas de desesperados, e vejo minha mãe me abraçando e sentindo feliz com meu progresso na sociedade, já escrevi em um jornal pequeno, tiro notas boas no curso superior de História, faço, um ou outro, evento social e realmente fico feliz quando vejo o sorriso sincero da minha mãe naquela boca cheia de traços rasbiscados de luta, esforço e amor pra me criar, fica desde já escrito que vivo por ela e não sei porque estou dizendo isso, não deve mesmo interessar a ninguém, mas vou ficando por aqui, porque tenho que ir a aula que não é tão ruim assim, mas seria melhor se não tivesse que ir.

Enzo Pinho
Enviado por Enzo Pinho em 08/11/2007
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