Ponte para Terabítia

Sempre tive uma mente muito fértil, estilo Ponte para Terabítia.

Quando criança, morei em um lote grande que enchia minha imaginação de ideias. Tive uma casa na árvore, mas bem diferente das convencionais. A minha era numa bananeira, que se encurvava e formava uma cobertura entre o local que ela havia sido plantada e o muro. Eu e uma amiga reproduzíamos filmes de aventura em nossas brincadeiras, e nada era impossível em minha mente.

Gostava de assistir filmes e me aventurar na leitura de livros, desde cedo. De Cinderela a Moby Dick, minha mente nunca parou. Eu podia ser e ter o que quisesse, se eu imaginasse. Já tentei voar e, embora não tenha saído exatamente como o planejado, juro que por um momento eu voei.

Lembro-me do dia em que peguei minha bicicleta e tentei, de forma falha, encontrar o final do arco-íris.

Eu morava numa cidade pequena na época e, mesmo que tivesse onze anos de idade, queria saber o que havia no final do arco-íris. Obviamente, não cheguei até lá. Mas, isso não impediu que eu imaginasse.

Resolvi acreditar que tudo que estivesse no final do arco era abençoado. Podia ser uma casa, um animal, uma pessoa, uma árvore. Tudo que tivesse o final do arco-íris sobre si seria abençoado.

Na adolescência, eu continuei imaginando coisas, continuei escrevendo, lendo e viajando sem sair do lugar. E mesmo com os primeiros dramas da vida adolescente surgindo em meu caminho, eu continuava acreditando que tudo era possível. Então eu sonhei. Sonhei por vários anos, e continuo sonhando.

Mas, em algum momento, a mente fértil se deparou com a afirmação de que nem tudo era possível e que, em alguns momentos, minha imaginação não poderia me salvar. Eu teria que enfrentar tudo. Parar de fugir.

Sair das ideias e voltar meus olhos pra realidade.

A partir daí, eu não conseguia mais voar, o arco-íris só era as gotículas de água que se encontravam com a luz solar e não fazia diferença nenhuma onde ele terminava. Me forcei a ser prática, racional e equilibrada.

Ninguém gosta de pessoas impulsivas e intensas, certo? Então peguei toda impulsividade, que estava dentro desse poço cheio de profundidade, e guardei em uma maletinha que tenho no fundo do armário.

A minha versão original ficou guardada, enquanto uma cópia, que se alimentava e se formava de acordo com a expectativa das pessoas, foi vivendo por aí. Por anos.

É desgastante isso.

Chegou um momento que eu já não sabia quem eu era ou o que eu queria de verdade. Eu era uma projeção, uma não, várias projeções. Várias projeções que eu não gostava.

A versão original batia na maletinha e tentava abri-la, tentava sair pra fora, mas às vezes parava por medo. O que teria lá fora? O que as pessoas achariam dela?

Deixei ela lá, mesmo ouvindo seu pedido desesperado por liberdade.

Pobrezinha, tentando ser noventa por cento racional, sendo que seu coração é tão bom!

Um dia, resolvi abrir a maletinha e tive uma longa conversa comigo mesma.

“Ei, sua intensidade não é um problema! Seus sonhos também não.”

Me coloquei no colo, lavei o rosto pra tirar os resíduos de lágrimas que já estavam secas e acumuladas na pele. Me acolhi. Continuo sendo racional, mas escuto meu coração também, cada um em seu devido tempo e lugar.

Não precisam brigar entre si. A criança e adulta vivem juntas agora e aprenderam a se amar e se respeitar.

Hoje eu sei que o mundo não é um faz de contas, mas se eu quiser eu faço. Eu invento e reinvento. Eu me descubro e redescubro. Não se assustem se um dia eu for atrás do final do arco-íris de novo.

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 07/07/2021
Código do texto: T7294592
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