Acampamento com Reflexão

Estou acampado na Chapada dos Veadeiros, Goiás, copo de vinho na mão, sentado em uma cadeira baixinha, daquelas de praia que recostam. Olho para o céu e vejo a lua saindo da fase nova, entrando em crescente, apenas um fiapo que brilha na escuridão da noite.

Dou um gole no vinho, como um pedaço de linguiça, sobra da paella caipira que preparei no almoço, e volto a olhar o céu, que está coalhado de estrelas. Há muito não via tantas!

Quando se está fora das grandes cidades, sem a luminosidade que elas emanam, e sem nuvens, o que é comum na estação do inverno aqui no centro-oeste, a visão do firmamento é fantástica.

Logo identifico aquelas estrelas que todos conhecem: as “Três Marias”, que pertencem à constelação de Orion, e as da “Cruzeiro do Sul”, marco cultural do Brasil, presente na nossa Bandeira Nacional e no Brasão de Armas, símbolo da República.

Também vislumbro dois pontos próximos da lua, que pela luminosidade fixa cri serem os planetas marte, pela sua coloração alaranjada, e vênus, mais brilhante (pelo menos foi isso que informei às minhas netas, que por um tempinho me acompanharam na observação).

Fiquei algum tempo assim nesse estado contemplativo, meio que hipnotizado com a beleza e grandiosidade daquele panorama celeste, o que me fez refletir sobre a nossa pequenez física e temporal perante o universo. Basta imaginar que os astrônomos acreditam haver mais de dois trilhões de galáxias e que somente na galáxia a que pertence o nosso sol, a Via Láctea, presume-se existir algo entre 100 a 400 bilhões de estrelas e nosso planetinha azul gira e gira em torno de uma delas que em termos de magnitude é apenas de quinta grandeza.

Segundo Carl Sagan, “o nitrogênio em nosso DNA, o cálcio em nossos dentes, o ferro em nosso sangue, o carbono em nossas tortas de maçã foi feito no interior das estrelas em colapso. Nós somos feitos da poeira de estrelas”.

Se não passamos de poeira de estrelas, qual o nosso valor em meio a isso tudo? Por que existimos, raciocinamos, temos sentimentos, procriamos...?

Poeira ou não, temos algum conteúdo, devemos ter alguma significação que ainda não compreendemos.

Bom, o vinho acabou, o frio aumentou e eu sentindo um vazio em meio a tudo, sem respostas para as perguntas que me fazia, mais uma vez olhei para a lua como quem busca a parte faltante e, nada encontrando, fui dormir.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 17/07/2021
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