CASAR OU SER PADRE? - REFLEXÃO

Ontem, 17 de julho de 2021, ligando minha TV na Rede Vida, deparei-me com a cerimônia de uma missa, presidida pelo bispo da Diocese de Pesqueira (PE), Dom José Luiz Ferreira Salles. A celebração teve como tema “Olhou-o com amor e o chamou para proclamar a Copiosa Redenção”. Nessa oportunidade o jovem diácono Rimar César Diniz, mineiro do município de Bocaina de Minas, recebeu do bispo a ordenação sacerdotal, na missa das 18h, rezada no Altar Central da Basílica de Aparecida (SP).

Em alguns momentos a emoção tomou conta de meu coração. Quando o jovem recebeu os paramentos sacerdotais de sua irmã e foram vestidos no diácono; quando ele deu um abraço carinhoso nos pais; quando ele recebeu o cálice e a hóstia; etc etc. Foram momentos muito bonitos. Coloquei-me no lugar do jovem, imaginando que, um dia, poderia eu estar passando por essa experiência de ser ordenado padre. Pensei em minha alegria e na de meus pais, presenciando aquele momento... Sozinho, sentado na poltrona da sala, cheguei às lágrimas. Para quem não sabe ou não se lembra, em 1961, fui para o Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Itaúna, Minas Gerais. Em 1963, retornei para minha casa, em Belo Horizonte, com a mensagem do diretor de que eu não tinha vocação. Foi um momento muito difícil em minha vida ter que abrir mão, contra minha vontade, do desejo de ser padre e ter que deixar o seminário.

Retornando à cerimônia da missa, quando a emoção ainda inundava minha alma, eis que entra rapidamente na sala meu neto Bento Alexandre, de quatro anos de idade. Com um sorriso nos lábios e conversando comigo, perguntou-me por que eu não tinha colocado um copo d’água junto à TV, já que ele se acostumara a isso. Diariamente, no ”Terço de Aparecida”, rezo com o Padre Antônio Maria. Tal liturgia acompanho sempre, e, terminada a oração, são feitas as bênçãos da água e a dos fiéis pelo sacerdote.

Ao observar aquela criança, cheia de vida, alegre, tagarela, meu coração teve uma repentina transformação. Se eu tivesse sido ordenado padre, minha vida seria muito diferente. Os passos por que teria que passar norteariam meu destino de forma totalmente diversa. Seria bom? Talvez sim. Talvez não. Quem sabe? Alegria? Meus pais certamente teriam bastante. Mas meu destino foi outro. O garotinho, meu neto, de cabelos louros e cacheados, mexeu profundamente com meus sentimentos. Não estaria eu na sala nem muito menos estaria presenciando a alegria e os gestos daquela criança tão linda, tão cheia de luz, se seu tivesse sido ordenado sacerdote. Sem considerar a alegria dos demais netos que não estavam ali naquele momento.

Veio em minha mente uma infinidade de pensamentos. Minha família constituída com minha esposa, Maria de Fátima; meus filhos Luigi e seu filho Luiginho; meu filho Gustavo e seus quatro filhos, Gustavo Júnior, Marcella Thaís, João Pedro e Luiz Henrique; meu filho Marcelo, pai do Bento Alexandre. Imaginei: Nem todas as personagens citadas estariam neste planeta se eu tivesse sido ordenado padre. Um caminho totalmente diferente foi construído, envolvendo diversas novas pessoas.

Diante de tanta reflexão, concluí que nada acontece por acaso. Deus me fez pai. Não um sacerdote. Cumpro minha missão como quem colabora com o Criador, ajudando-O a povoar a Terra. Segundo o relato da criação no livro de Gênesis, nas Sagradas Escrituras, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança com a finalidade de que o homem fosse seu próprio colaborador na criação do mundo.

Diante do exposto, me conformei. Tudo aconteceu de acordo com os desígnios do Pai. Se saí do seminário, Deus me ofereceu outra opção a qual abracei com dignidade.

Hoje não sou padre. Não faz mal. Tenho uma família maravilhosa e, reafirmo: TENHO ORGULHO DE COLABORAR COM NOSSO DEUS AO PARTICIPAR DA CONSTRUÇÃO DO MUNDO.

Belo Horizonte, 18 de julho de 2021.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 18/07/2021
Reeditado em 06/08/2021
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