1976

Ele era de 1976 época de ouro. Ouviu muito: poucos conseguirão! Vamos treinar gente! O caminho é longo. É claro que esta frase ecoou no seus ouvidos no ano de 1994 a quase 200 km da cidade onde nascera. Ele estava entre enormes prédios, e ônibus que vinham de um lado para o outro da enorme avenida que da acesso a um dos cartões postais de São Paulo o " parque do Ibirapuera". Somente guerreiros passaram por lá. Os mais fortes sobreviveram, os fracos sucumbiram e os covardes desistiram. Ele não se enquadrava em nenhuma das categorias acima ele apenas não pertencia aquele lugar, como em tantas outros que ainda teria que passar. Ele tinha apenas 18 anos e um mundo em suas costas estava na sua melhor forma física dentro do judô, já tinha muitos títulos nacionais e treinava cedo a tarde e a noite. Morava na Associação de Judô de Piquete e passeava em casa. É claro que ele queria que um dia seu quadro estivesse lá também na parede como da Edvânia bi-campeão Paulista. Era um quadro com a fotografia preto/branco um judogi liso longe do trançado adidas que ele usava que na época era o top de linha. Mas ele sabia o que era um judogi liso que cortava o pescoço. Ele sabia o que era ficar lá no cantinho por um mês aprendendo a cair. Ele admirava o referencial da época que por longos anos compartilhou o mesmo tatame com ele. Ele sabia o que era um tatame de palha e até aprendeu a carrega-los encima de uma saveiro ou encima de um caminhão basculante. Ele sabia o que era chorar em um treino porque estava se esforçando o máximo e ainda a pressão vinha de todos os lados. Ele tinha ideia do que carregava do lado esquerdo do peitoral do judogi e o peso que tinha " A.J.P". Sensei João Carlos Giffone Arantes um artesão do judô. Moldou muitos talentos e fez da Associação de Judô de Piquete uma das academias mais conhecidas no Brasil. Nesta fase tudo era o judô e como dizia um dos seus amigos: - transpirava judô. Embora dois anos depois ter sido tomado pelo furacão da depressão, ainda continuou despontando pra fechar em 2001 com o seu melhor " Jogos Regionais de Botucatu" onde lutou com meninos de 18 e 17 anos na linguagem da época " pau-a-pau" é claro que com a sua bagagem e o seu famoso o-uti-gari que atropelava os adversários subiu no lugar mais alto do pódio naquela ocasião em um peso que nem era o seu, mas ele conhecia o poder da superação. Neste mesmo ano ele ainda era um calouro na empresa da Basf porém todos que passavam pela portaria social viram o troféu encima da bancada e perguntavam:- de quem é?

Luciano Vieira. Aos poucos ele foi saindo do cenário judoistico para brilhar agora em outro lugar. Foi uma despedida meio confusa porque nos dias que estava de folga conseguia treinar como um leão. E dominava e tinha um vigor extraordinário no trabalho. Não serviu a Pátria Amada Brasil, mas foi doutrinado por ex-militares. Seu supervisor na época Cordeiro seu nome de guerra treinou o 01 para ser o melhor. Pois não era fácil caminhar por 12 horas fazendo rondas com o bastão na mão registrando ponto de 15 em 15 minutos por toda a extensão da empresa o frio, a chuva, o calor, o medo do escuro, as idas e vindas de ônibus em baldeações rasgando turnos dos mais variados, cedo, a tarde e madrugada. Passando por baixo da locomotiva, indo até a linha férrea abrir o portão para a locomotiva entrar na empresa. Fazendo rondas de motos, fazendo rondas a pé. Coturno, farda e barba impecáveis. Rasgando domingo de folga, fazendo polichinelos atras de contêiner para não deixar o sono deitar o guerreiro. Lavando os olhos com os chuveiros de emergências que ficava localizados próximos as docas. Dando tapas no rosto, fazendo flexões de braços... pedalando pelo K10, sentindo os aromas dos produtos químicos espalhados por toda a fábrica. A fumaça do incinerador os barulhos das descargas das tubulações que se espalhavam por todo o lugar. Cercados de tanques enormes contendo: Estirenos, butadienos, formol, o cheiro podre de enxofre, o tal de cianeto de sódio que tinha uma caveira estampada no isotanque. Era trabalhar dentro de uma bomba-relógio. Mais seria coincidência pois seu pai havia trabalhado 25 anos fabricando dinamites e vendo um monte de seus amigos morrerem em diversas explosões. Luciano Vieira já tinha passado no exame da ronda agora ele fora destinado para outra missão:- o famoso e temido J10. No mesmo ano depois de três meses na empresa...