Esportes Marginais

Depois de uma noite não dormida reencontrei a escrita acompanhado pela rima do pensador (https://www.youtube.com/watch?v=I_8FWwypmoc) que alguns anos atrás já traduzia em suas canções o que o surf brasileiro representa. A pensar sobre a inédita conquista brasileira no surf e no skate volto no tempo pra entender a grandeza desses momentos. A alguns anos atrás praticantes de skate eram tratados como marginais e o surf era considerado um esporte praticado por vagabundos.

Mas, foi em plena ditadura militar que o Brasil sediou sua primeira etapa do Circuito Mundial no Arpoador, Rio de Janeiro. Na falta de ondas, os californianos inventaram o skate a partir do sidewalk surf ou surf de calçada praticado ainda na década de 60 do século passado. Assim, fica fácil entender a proximidade dos dois que estrearam como esportes olímpicos nas Olimpíadas de Tóquio, no Japão.

Na primeira edição olímpica do skate, o Brasil faz história com a conquista de Rayssa Leal no Skate Street Feminino, a atleta brasileira mais jovem de todas as edições olímpicas levou a medalha de prata, conquistada também por Kelvin Hoefler, na modalidade masculina. Antes deles, o judoca Daniel Cargnin já havia conquistado o bronze na categoria até 66k depois de superar a Covid-19 que o tirou do mundial da categoria alguns meses atrás.

Na madrugada de hoje, fomos agraciados com o bronze de Fernando Scheffer. O último classificado para a final dos 200m livre surpreendeu chegando em terceiro lugar. Vale lembrar que ele teve que treinar em um açude por causa das medidas de lockdown adotadas para conter o avanço da contaminação de Covid-19 no país. Deu pra perceber que, muito antes de chegarem à capital japonesa, nossos atletas já superaram muitos adversários.

O primeiro ouro brasileiro das Olimpíadas de Tóquio veio do surf, aquele esporte marginalizado quando chegou oficialmente ao país na década de 70 do século passado. De lá para cá muitas conquistas precederam este pódio. O mundial já foi conquistado por Gabriel Medina (2014 e 2018), Mineirinho (2015) e Ítalo Pereira (2020). Apenas Gabriel Medina e Ítalo Pereira representaram o Brasil nas Olimpíadas e muito bem.

Gabriel Medina foi eliminado nas semifinal pelo japonês Kanoa Igarashi em um resultado muito contestado pelos analistas esportivos. Durante a final, na primeira onda a prancha de Ítalo Ferreira quebra. Mas, pra quem começou a pegar onda na tampa de isopor do pai pescador, ganhou sua primeira prancha de segunda comprada com muito sacrifício pela família, esse fato foi somente mais um detalhe.

O ouro de Ítalo Ferreira deixa, pelo menos por um instante, em segundo plano a falta de vacina, o aparelhamento do Estado e a propina, aumento do gás e da gasolina, o fundo eleitoral bilionário e as filas nos açougues, motociatas e atos democráticos, o desemprego e a pobreza. O esporte cumpre sua função social de nos transportar da realidade dura e sofrida em que vivemos e nos mostrar que as maiores conquistas só vem depois de superarmos os desafios.