Tudo é vazio

Estou sentada dentro do box, no piso do banheiro onde me sinto confortável, pego o caderno no meu bolso e começo a escrever. As coisas acabam de mudar e aqui está eu, fugindo de novo. "Era pra mim estar na sala de aula. Que que eu tô fazendo aqui?" Penso de repente. Me balanço para frente e para trás num ritmo que eu me acalme. Para frente e para trás. Para frente e para trás. "Tudo está tão diferente agora, a escola nova, os afazeres novos, está tudo tão difícil" continuo em silêncio. O silêncio me acalma, mas as vezes tudo o que eu penso é desistir. Simplesmente largar tudo e sair fora dessa. Passam-me pela cabeça um monte de coisas que me fazem querer parar. Continuo a me balançar. Para frente e para trás. Para frente e para trás. Esses fluxos de memória são frequentes e repentinos, acontecem sem eu querer e sem eu poder fazer nada. Somente escrever me salva dessa. Por isso estou aqui sentada nesse chão gelado com um caderno na mão. Mesmo com o silêncio dentro de casa, a rua continua barulhenta e, na maior parte dos dias, esse é meu maior medo, enfrentá-la. Sair na rua é meu pior pesadelo. As pessoas, as luzes, o barulho. Tudo me atrapalha. Mal consigo andar. E agora, com essa coisa nova, me atrapalho ainda mais. Tudo o que faço é fugir. Fugir das pessoas, das coisas, da minha própria cabeça. Continuo a pensar. Quando me dou conta, meus pais aparecem me levando para fora. Tudo é vazio.

Debora B Ribeiro
Enviado por Debora B Ribeiro em 28/07/2021
Código do texto: T7309364
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.