Carnaval Inesquecível.

Carnaval Inesquecível.

Era fevereiro de 1992, exatamente dia 28, sexta-feira, estava tendo inicio o carnaval daquele ano. Aparentemente um dia como os demais, se não fosse pelo fato inusitado que ocorreria naquele dia. Pela manhã, como de praxe, levantei cedo, direcionei as atividades de casa, os primeiros cuidados com o meu bebê, que contava oito meses, e o deixei como todos os dias, com uma jovem que cuidava dele desde o início do segundo mês de vida. Tinha sido trazida por minha mãe de uma cidade vizinha, para cuidar de meu bebê, e tamanha foi minha surpresa, porque ela também já era mãe de um bebê de três meses, e havia deixado aos cuidados da avó, para que pudesse trabalhar e ajudar a criá-lo. Fiquei bastante penalizada, por ela estar separada do filho. Mas passaram-se os dias, meses, e fui me acostumando, ela também. De vez em quando ela viajava para visitá-lo, e assim nos adaptando. Durante sete meses foi muito pacata, não costumava sair, dormia muito; também a cada dia ficava mais gordinha, era de baixa estatura e a cada quilo que aumentava se tornava quadrada. Eu me admirava pelo seu comportamento, porque qualquer mulher jovem costumava fazer novas amizades, passear, namorar, etc; ela não! Só saia comigo, parecia um sonho. Mas naquele dia eu passaria a entender o porquê daquele jeito estranho. Saí para o trabalho, e por lá permaneci até o horário do almoço, quando retornei a casa, a encontrei num quarto, deitada em uma rede e meu filhote sentado no chão do quarto onde brincava inocentemente. Indaguei o que se passava e ela disse-me que estava sentindo uma dor e por isso estava deitada. Preocupei-me, porque necessitava voltar ao trabalho depois do almoço. Ofereci umas gotas analgésicas, e esta rejeitou, dizendo que não podia tomá-las. E eu fiquei um pouco aborrecida, achando que ela não queria colaborar, porque normalmente, quando sentimos alguma doença, buscamos remédio para melhorarmos. Depois que insisti bastante, ela falou: “vou ter um bebê”. Fiquei perplexa! E logo indaguei: “você vai fazer um aborto?” E ela: “não! será de tempo normal”. Apavorei-me. Não sabia de sua gravidez. E apesar de ser mãe, não conhecia detalhes sobre um parto normal. Meu parto havia sido uma cesariana e nada sabia fazer. Comecei a tremer, faltou chão sob meus pés, a voz desapareceu tamanha era minha surpresa. Telefonei para a central de ambulância e solicitei uma com urgência. Para sorte de todos, não demorou nada a chegar. Recorri a uma vizinha amiga para ficar com meu bebê e fomos fazer o translado casa / maternidade. Foi colocada na maca, porque já se encontrava em trabalho de parto, a bolsa já havia rompido e o bebê apontaria logo, logo. Imenso era meu pavor de todo aquele acontecimento, primeiro pela surpresa – jamais imaginava que a mesma estivesse gestante, e ela não tinha a tradicional barriga de grávida, o que dificultou a descoberta; e segundo – presenciar um parto natural, sem saber fazer nada. Foi acima de tudo uma emoção que jamais esquecerei, quando ela foi posta na ambulância, eu a acompanhei, não demorou nem cinco minutos e o bebê nasceu e começou a chorar, e na posição original foi até a maternidade. Nasceu com tranqüilidade. Chegando lá, veio a enfermeira e deparou-se comigo que havia descido da ambulância e me recostado à mesma, trêmula, mãos duras, de quem estava em plena crise nervosa, cambaleante, sem condições de andar, e esta me perguntou em tom irônico: “é você que vai parir?” e eu disse-lhe: “não; ela está ai dentro da ambulância, o bebê já nasceu, veja se dá um jeito, urgente!”. E a enfermeira sorrindo, disse-me que relaxasse, tudo era simples e já não tinha muita coisa a fazer. Só arrumar mãe e filho. Era um menino moreninho, perfeito!

Após o encaminhamento à maternidade, fui tomar as providências básicas, porque aquele bebê não disponha sequer de uma fralda, de um sapatinho... de nada. Sua mãe era totalmente louca, mas pelo menos havia preservado aquela vida. Não ousara abortar. Felizmente! Não tinha falado para ninguém sobre a gravidez, nem tampouco alguém havia levantado suspeita. Conclui que, quando a mesma veio para minha residência, já estava grávida há dois meses, enquanto tinha um bebê de três meses de idade. Foi uma experiência um tanto traumática, mas de grande valia. E jamais houve uma explicação plausível por parte da jovem porque havia escondido a gravidez. Até hoje me emociona tais lembranças.

Realmente foi um carnaval inesquecível, pela emoção vivida e porque todos meus familiares e amigos gozaram com minha ingenuidade.

Cellyme
Enviado por Cellyme em 10/11/2007
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