AMOR - UM SEGREDO DA VIDA

Quando eles chegam, a gente se empenha em lavar seus bumbuns, colocar talquinho, fazer um afago e os achamos uma gracinha. Eles, sem nenhuma pretensão sádica, esboçam um sorriso banguela e nos encantam. E, vão crescendo. Começam a falar coisas que a gente precisa decifrar. Andam de mau jeito e a gente se preocupa com a queda que, infalivelmente, acontece. Quando chegam aos cinco anos, lá vem um mundo de perguntas nos forçando responder a indagações do tipo – por que o leite não vaza do peito da vaca já que ele é furado? Aí vem a nossa dificuldade em responder. Dos oito aos treze anos, as travessuras nos tiram do sério e nem sempre nossa relação é amistosa. Queixas de cá, magoas de lá e assim eles vão... Crescendo e nascendo pêlos, engrossando a voz, fortalecendo o pescoço e adquirindo novas feições – de mulher ou de homem. Adolescentes, buscam num turbilhão de novidades a definição de suas personalidades. Tropeço aqui, derrota acolá... mas, eles continuam.

Se mulher, as formas físicas atraem, como é natural, um rapaz que, como dizem na minha terra, queimam nosso querosene. E nós ficamos a fazer sala ou a esperar que o sol desponte para ver sua chegada triunfante ao aconchego familiar, crente de que a conquista está consolidada. Qual o quê – as conquistas parecem não findar... E ela vai.

Se homem, aí a coisa é pior. Eles nem chegam com o sol. Varam a madrugada como flechas sem destino. Buscam aventuras em lugares distantes a procura do que acham ser o motivo maior de sua insistente procura por alguém que dê guarida aos seus ntentos masculinos. E eles vão...

Quando menos se espera, nossos meninos ingressam na universidade, É uma festa! Dentre milhões de brasileiros como eles, para nossa alegria, eles são aquele espermatozóide que deu certo. Cresce a esperança neles e em nós.

Mais rápido do que nunca, eles esbanjam alegria expondo para nós os seus diplomas. A partir daí, vem a guerra à procura de um emprego ou atividade que lhes dê dignidade profissional. Nós, os amantes e fiéis torcedores aguardamos a subida deles ao podium profissional.

Elas e eles instigados pelas dificuldades impostas pela pátria-mãe, carrasca muitas das vezes, procuram acalanto em outras plagas e se vão...

Sozinhos e mergulhados num oceano de saudades, ficamos a imaginar cenas de sucesso onde eles são os protagonistas principais. Enquanto o tempo passa, castigados pela saudade de nossa menina e de nosso menino, nós, os pais, aguardamos a oportunidade de, novamente, sentir o cheiro de bumbum de bebê; de levar aquela mijada na cara num despudorado gesto de inocência que nos torna passivos, porém com reações hilariantes que nos fazem felizes.

Assim pensando, concluímos: somos eternos apaixonados pelas nossas crias, mesmo sabendo que muitas das vezes, somos esquecidos. Mas isso dura somente até o dia que eles forem pais. Quando esse dia chegar, talvez eles amem tanto ou mais do que nós. Eis um dos segredos da vida.

Rui Azevedo – 10.11.2007

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 10/11/2007
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