Lideranças Minúsculas

Dizem os humoristas, chargistas e outros: o Brasil é terreno fértil para quem trabalha com, sátiras, piadas, charges e similares, pois o absurdo é uma das melhores matéria prima. Como amador, a matéria prima para meus trabalhos vem de minha prospecção, como bom ouvinte e crítico às histórias de vida, a fatos e declarações e, como neste caso, postagem nessas mídias acessadas comodamente na segurança do lar.

Postagem extraída do “face book: “somente essa nossa maneira de fazer política: rasteira, minúscula, fisiológica, corporativa, patrimonialista, de compadrio etc. e com a resignação e cumplicidade de nosso povo produz essa república apodrecida e desgastada e, mais uma vez, uma dessas duas trágicas alternativas míticas (bolsonarismo e lulismo), para dirigir a nação”.

Por entender o tamanho da afirmativa, dentro do exagero detalhista dos virginianos, percebi que ela merecia ser dissecada em crônica e compartilhada.

Percebi que um dos dois adjetivos estaria sobrando, pois, rasteira e minúscula se referem à estatura da política, que não tem como norte algum projeto político, mas projetos de poder, voltados para expansão e manutenção de domínio.

Fisiológica, forma de fazer política muito bem representada pelo Centrão, que participou, participa e participará dos próximos governos, pois esse nosso presidencialismo de cooptação, precisa da tal governabilidade e o Centrão vem, sistematicamente, se alugando por cargos em qualquer escalão do Executivo, desde que com orçamento significativo (esse fisiologismo Bolsonaro identificava na campanha e nos primeiros meses de seu governo como “velha política”).

Corporativa, está relacionada ao espírito de corpo, de corporação, então os partidos que não têm projeto político dividem sua representatividade parlamentar com bancadas: da bala, da bola, evangélica... Além disso, as reformas quando tentam retirar privilégios exagerados (judiciário legislativo e executivo), ou de alguma grande corporação privada (subsídios, isenções...) essa distorção, na forma de fazer política, se agiganta.

Patrimonialista, exageradamente presente nas relações entre Estado (público) e Empresas não controladas pelo estado brasileiro, (privado) que, por sua vez está relacionada à distorção de dever do gestor público, a Impessoalidade. Ilustra algumas licitações, onde as relações pessoais entre o governante e os empresários, as decidem. Para ilustrar o patrimonialismo, as delações da Operação Lava Jato, onde relações entre o público e o privado foram julgadas criminosas. Outro exemplo, numa declaração de Bolsonaro sobre não comprar a vacina do Butantã ele diz: “Com o meu dinheiro, (rapidamente corrige, ao ver-se ilustrando o patrimonialismo e a não Impessoalidade no exercício do cargo, Chefe de Governo) com o dinheiro do povo não será comprada essa vacina”. Outra frequente declaração do mesmo: “o meu Exército”, nem que dissesse com o Exército de meu governo, pois, também, estaria fazendo confusão, pois o Exército serve ao Estado, instituição permanente e não a governos transitórios.

Essa confusão também é gerada por outra forma de patrimonialismo, onde gestor entende o patrimônio público sob sua gestão, como de uso para seu benefício, de sua família, amigos, partido, companheiros de ideologia, enfim, entende o patrimônio público como de uso para benefício privado. Esse caso não precisa de ilustração, pois a mídia os divulga diariamente.

De compadrio, esta distorção em fazer política poderia ser absorvida pelo patrimonialismo, visto que também se expressa na confusão de substituir relação institucional com as relações pessoais, de compadrio.

E, a postagem extraída de “face book” afirma: “é necessário a cumplicidade e resignação popular, para chegar a essa triste realidade de republiqueta e lideranças políticas minúsculas”.

Aqui, entendo que não somos cúmplices, alguma coisa de resignação sim, mas o que de nossa parte determina a continuidade dessa política e liderança minúscula é: como indivíduos, temos distorções semelhantes aos que elegemos, se analisarmos, com o mesmo rigor, percebe-se que temos muito de corporativismo, fisiologismo e patrimonialismo, mantidas as distâncias entre as responsabilidades no desempenho de papéis de cidadão e de gestor público.

Outro entendimento contrário a que não somos cúmplices: somos escravos, tal qual um dependente químico, de relação passional com a droga, tecemos relação semelhante com o mito escolhido. Assim como se nega e não se tem consciência de dependência química, é negado tanto a relação passional, como a realidade sobre o mito. Além disso, convenhamos se substituíssemos a passionalidade pela racionalidade não estaríamos a buscar para gerir a nação, ou qualquer outro ente federativo, mitos. Buscaríamos gestores públicos de vultosos orçamentos (ministros, governadores, prefeitos, presidente de estatais) amplamente reconhecidos como bem sucedidos. Nunca aceitaríamos, sendo motivados por “atos heroicos”: caçador de marajás; líder sindical combativo; bom de briga, bom de bola; bom de cirurgia, bom de salto com paraquedas, machão, gay: matador de bandidos...

Esqueci-me de registrar que a frase postada, objeto desse texto, vinha acompanhada de duas fotos: uma da liderança do “bolsonarismo”, e outra da liderança do “lulismo”. Dissecar sobre a estatura dessas lideranças não é necessário. Mesmo descontando exageros no rigor nas críticas dos “bolsonaristas” e dos “lulistas”, reproduzem muito bem o quanto são minúsculas lideranças.

Juízo povo brasileiro, vamos tentar para as próximas eleições: abstermos-nos dessa droga histórica, o populismo, vastamente caracterizada, pelo nome de alguém forjado, fantasiado como mito e o sufixo ”ismo” (getulismo, janismo, brizolismo...); e dar solução à incapacidade dessa tribo (no sentido pejorativo), praticante dessa política minúscula, de se unir e levar somente um terceiro nome com muita chance de nos livrar dessa polaridade insana. Vamos contrariar as pesquisas que nos induzem, nos conduzem, para repetir o triste cenário de 2018 em 2022. Para tal, dentro do provável grande número de caciques, representando cada tribo (no sentido pejorativo) partidária, apresentado como alternativas, decidamos carregar sem moderação nossos votos naquele que tiver maior chance de desbancar, no primeiro turno, uma dessas minúsculas lideranças.

Entendamos que essas duas alternativas dessa polaridade insana, são tragédias conhecidas, esse outro que escolheremos, é dúvida, mas esperança.

Uma certeza; ainda teremos longo percurso para transformarmos isso numa república de fato. Dependerá: de o reconhecimento e tratamento dessa dependência; de o desenvolvimento de padrões aos cidadãos; e de os partidos disputarem o exercício da gestão pública para a realização de projeto político (programa, metas...) bem como apresentarem alternativas à gestão pública estadistas e gestores públicos com êxito reconhecido.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 04/08/2021
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T7313872
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