Essas eu acho que não contei

Pode ser que aqui esteja nalgum dos relatos já relatados

que eu nessa vida vivi com ela...

relatados aqui ou em outros lugares que já publiquei.

Vou dizer novamente, ela faleceu em 2010, minha mãe, Maria Vitória com seus quase 100 aninhos, vida plena, aquela senhora que há muitos anos antes, muito mesmo, porque ela mal havia entrado na escola, talvez com seus 9 anos? (não sei, porque isso não tinha lhe perguntado) naqueles tempos pra estudar era mais complicado do que agora. Imaginem que ela mal havia começado a estudar o 2.º ano, gostava de declamar poesia, até ganhou um prêmio por ter declamado magnificamente numa apresentação. Minha mãe, deveria ter pensado:

--- ainda vou ser uma poetisa, uma escritora, tudo que leva letras!...

Poetisa, escritora, ela tornou-se autodidata, mas quanto a continuar nos estudos na escola, ledo engano, numa certa ocasião, seu pai, lógico que era meu avô, vai na sala de aula em que ela estava estudando e diz com todas as letras:

--- vou tirar você da escola, porque mulher não precisa estudar muito!...

Preocupada talvez pra mim não pensar ser meu avô um vilão, minha mãe me dizia:

--- meu filho, seu avô não era mau, ele agiu assim porque era comum os homens pensarem naquele tempo dessa forma.

---pode ser, mãe, mas que o vô Camilo então era machista, há! Isso ele era!!!

Sem continuar a falar “mal” de meu avô, daquele descendente de italiano arretado, porque mesmo assim minha mãe gostava muito dele, sentia tanto sua falta, quando ele desaparecia e ficava meses e até anos sem aparecer. Isso ela mesma relatava, mas mesmo com essas falhas latentes, incontestáveis, o carisma do velho, aparecia até mesmo com mais ênfase nos seus relatos. Ela não esquecia de quando vô Camilo com seu fiel cachorro, o cão era tão dedicado ao seu dono, numa ocasião ele saiu pra fazer compras, mas meu avô gostava da marvada pinga e no caminho, deixa o saco de mantimentos num canto, embriagado ao extremo, deita e dorme ali mesmo. Apesar de não estar perto de casa, o atento cão, vai em busca de socorro, porque estava chovendo muito, chegando em casa, o cachorro late sem parar, sua avó (minha mãe continua no seu relato) percebe que o inteligente cão parecia interceder por ajuda e ao acompanha-lo encontra o meu avô deitado com a cabeça numa grande poça de água, talvez por mais alguns minutos poderia ser trágico, porque estava chovendo muito. Era assim histórias e mais histórias do meu avô Camilo.

Minha mãe contava também que ele era um exímio carpinteiro, construtor de casas, seus irmãos mais velhos puxaram a ele nessas nobres profissões. Eu completava:

---Só eu que saí fora, porque comecei a trabalhar na gráfica, saí fora dessas profissões, não é? Minha mãe tenta me consolar:

---- mas está bom também, meu filho, deve ser por isso que você gosta tanto de escrever e aí contar nossa história não é?

Apesar da interrupção na escola, minha mãe embrenhou-se em ser catequista, estudou muito nos livros religiosos, auxiliada pelos padres, tornou-se uma notável mestra no ensino catequético, por mais de 60 anos. Imensidões de alunos hoje sempre relembram dela.

Ah! Sobre o meu avô Camilo? Ele desapareceu com as suas andanças, minha avó conhecida por, Mãe Chica, sua esposa? Minha mãe me explicou com detalhes que minha avó casou com um português, que foi gerente da grande empresa de águas de São Lourenço, mas só quando soube do falecimento do meu avô. Aí é outra história!!!...