POR MEUS JOELHOS

Após um ano, voltei a fazer pequenas caminhadas. Meus joelhos exigiam.

No último ano, antes da pandemia, eu sentia o meu joelho esquerdo quando pressionava a embreagem.

Percebi que havia todo um exercício invisível que eu realizava no meu cotidiano. Do carro até o escritório, subir os três lances de escadas até a minha sala no quarto andar.

Descia uma ou duas vezes para ir na fruteira comprar uma salada de frutas; ou numa loja, na esquina da Osório, pegar incenso e uma cartela de trilegal.

Enfim, o que eu queria dizer é que fazia um ano que não caminhava e meus joelhos já estavam demonstrando os sinais da idade ao serem exigidos apenas para os pedais do carro.

Voltei a caminhar... Comecei aos poucos... Antes tinha que vencer o receio que adquiri de sair à rua, após tanto tempo de isolamento social.

Comecei a caminhar dando alguma utilidade para a minha caminhada, ia buscar pão pro café, calabresa para o feijão. Era bom que sempre aproveitava para ir no supermercado onde mediam a temperatura na entrada.

Na vez que minha temperatura era 37,5, aleguei que nesta cidade já havia sido decretado que 37 e meio não é febre. A moça que media a temperatura chorou ao som de uma charanga.

Voltei a caminhar, após um ano. E já percebo a fisionomia da cidade modificada. Muitos estabelecimentos que compunham a paisagem do meu caminho dando lugar a placas de aluga-se amontoadas no rosto das cortinas de ferro.

Não somos mais os mesmos, penso parafraseando Heráclito diante do imponente prédio onde foi a maior vídeo locadora da cidade. Por ironia do destino hoje é uma farmácia.

Preciso de um discman para trocar estes pensamentos aleatórios por música durante as caminhadas...

@oantonioguadalupe