(re)Vivendo

Anna Paes

Cheguei mais cedo de Goiânia.

Velhas lembranças... Velhos amores sepultados pela terra. E muito antigas recordações da criança que fui.

Mas que fica gritando dentro de mim!

Querendo brincar de pique-esconde, de roda e cirandinha...

Uma amarelinha na calçada, riscada com giz roubado do quadro-negro

lá da escola das Salesianas - a melhor escola da época, e eu estava lá.

Beiço inchado, vez ou outra, porque um marimbondo me beijara a boca...

Que atrevidos eram os marimbondos!

O campo de futebol atrapalhava o caminho direto.

A praça era um jardim tão florido!

Continua florida a velha praça do Cruzeiro, lá no setor Sul.

E a rua em que moravam meus sonhos continua igualzinha!

As casas, as árvores... será que são tão antigas como meu sentimento?

A areia jogada no lote vago parecia chamar-me para dentro de seu miolo úmido e meio frio - meio frio?

Sim, aquela sensação de molhado e terra, mas que não é terra!

É areia molhada por dentro, cheia de pedregulhos. pedruscos(?)

Os cajueiros do quintal de nossa casa, a velha mangueira... e o cheiro de família feliz!

Ah! Não sei descrever esta sensação! É indescritível porque têm os detalhes.

Aqueles detalhes que só a gente percebe e sabe.

Sabe? O colo da mãe, o beijo do pai, o abraço dos irmãos... E eu já era tia!

Ai, veja que coisa linda, uma menininha era tia de outra menininha!

Hoje, Goiânia me levou ao passado...

(Vivo presente em mim!)

Brasilia 08/11/2007