Chico Prego

Talvez só tenha visto a mãe nos primeiros meses de vida. Ela certamente fora morta por algum caçador inescrupuloso. O fato é que Chico terminou cativo e passou a vida acorrentado pelos quadris a um pé de jambo rosa, na entrada de uma casa que ficava em frente à praça da Vila dos Motoristas. Deve ter vivido cerca de dez anos. Ainda lembro dele jovem, ativo e revoltado com aquela condição miserável de prisioneiro de uma árvore. Aprendera a recolher e a soltar a corrente em suas mãos para melhor deslocar-se pelo galho sem enrolar-se nele. Tinha os olhos tristes, os dentes sempre em riste para defender-se. Atacavam-no todos, crianças principalmente. Começavam admirando-o, depois vinham as gargalhadas estridulosas em resposta às suas macaquices. Mas queriam o quê? Ele se exaltava e reagia exasperado às humanices daquela horda ignota e gritante. O tempo foi passando. Chuva, sol, sereno, frio e calor. Ele foi envelhecendo até que apareceu morto, enforcado pela corrente que o prendia. Disseram que fora um acidente. Não sei não! O jambeiro, acho que aInda está vivo. Difícil é não vislumbrar entre a galharia de outrora os olhos fantasmagóricos de Chico, o macaco prego escravo que há décadas não existe mais por lá.
Edmar Claudio
Enviado por Edmar Claudio em 15/08/2021
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