Recordar é mesmo reviver

Publicando esta crônica, que é uma continuação daquele meu texto que tem o link:

Essas eu acho que não contei (recantodasletras.com.br)

Relembrando o que minha mãe relatava, com sua idade avançada (mais de 90 anos) mas em plena lucidez, ela dizia:

--- meu filho, depois que seu avô, Antônio Camilo, (na outra crônica esqueci do primeiro nome Antônio de meu avô) numa de suas corriqueiras saídas, não voltou mais, um dia veio a notícia para sua avó, Mãe Chica, de que ele tinha falecido. Ela se sentiu mais apavorada, porque eu apesar de ser filha única, ainda era criança, sendo analfabeta, Mãe Chica não tinha muita oportunidade, a vida tornava-se cada vez mais difícil, procurava fazer de tudo, conseguiu ser uma excelente cozinheira, todos que experimentavam suas comidas elogiavam. Então com a notícia da morte de meu pai, (minha mãe continuava o relato, era como eu estar presenciando tudo) o baque foi tanto que ficou sem perspectiva, mas sua avó era guerreira.

O tempo foi passando, eu ia ficando mocinha, um dia sem que esperasse, Mãe Chica me disse:

--- Maria, você vai casar! A notícia me veio como um estrondo, imagine, meu filho, uma garota justamente naqueles tempos difíceis, onde os conhecimentos de tudo era limitado, eu ainda não havia completado 16 anos, receber uma notícia dessas?

Respondi desesperada, até revoltada:

--- casar!? Mas como, mãe, com quem?

---você vai casar com o Luís, ele é um rapaz bom, trabalhador, até que ele é muito disputado por aí, mas o importante mesmo é que ele é de boa família, agora você não vai me entender, mas um dia quem sabe vai me dar razão e ele já tem 18 anos!

Meu casamento foi realizado, sem conhecer direito o seu pai, e...

--- e depois, 16 filhos, 4 deles falecem ainda crianças, não é mãe?

Ela depressa queria pular essa parte de meu comentário, porque foi muita luta!...

--- lógico, né? Tivemos que adaptar com a nova vida, tanto minha como a dele, seu pai sempre foi um homem generoso, apesar de meu gênio que não era fácil.

Escutando tudo o que minha mãe dizia, voltei com minhas citações:

--- dá pra imaginar, Dona Maria Vitória, conheço bem a senhora e conheci bem também o meu pai, então vamos continuar a falar de minha avó, Mãe Chica, como ela casou de novo, e conheceu o padrasto da senhora.

Minha mãe continuou a relatar com toda sua grande maneira de expressar:

---Há! É Você me conhece... mas não sabe que a minha influência religiosa em ser catequista, não foi da sua avó Mãe Chica, peguei o gosto de ser catequista foi da minha avó Dermina, mas deixa isso pra lá, sua avó Mãe Chica tinha muita fé também, vou explicar como ela conheceu seu novo pretendente:

--- um dia, depois de seus trabalhos ela estava vindo pra casa, ao atravessar a ponte do nosso Rio Verde, ela observa um homem branco bem vestido, de paletó, gravata, de chapéu, aparência de pessoa culta, talvez uns quarenta e poucos anos?... a mãe Chica, nota que alguma coisa não estava bem com o notadamente importante cavalheiro e aproxima dele, indaga daqui, pergunta dali e descobre que ele estava desorientado, talvez queria pular dali mesmo no Rio Verde? Rio que nessa época descia muita água. Eles conversam muito, nas apresentações ele era o famoso português, Carlos Vieira, gerente do nosso grande Parque das Águas de São Lourenço. Homem polido, culto, com aparência de sabedor de muitas coisas, sua indisfarçável depressão eram problemas familiares, separado há tempos da esposa. A amizade férrea nasceu ali naquele instante, de Carlos Vieira importante, com a Mãe Chica, muita gente dizia que na sua juventude era bonita, pessoa simples, mas soube falar de Deus, poderoso que resolveria qualquer dos problemas das pessoas, naquele momento de muita dor do Carlos Vieira. Viveram juntos algum tempo, depois da viuvez de Carlos Vieira, um padre amigo faz o casamento dos dois.

--- o resto eu já sei, mãe, (interrompo a narrativa de minha mãe) minha avó Mãe Chica, e Carlos Vieira tiveram um relacionamento perfeito, apaixonou também pelas suas comidas, por causa de suas mãos de fada. levaram os meus três irmãos mais velhos para morar com eles, para aliviar um pouco a barra da senhora com o papai, que ficou com os outros 9 filhos para cuidar. Alguns anos depois, o bondoso Carlos Vieira, companheiro da Mãe Chica falece, e com o falecimento do papai também, nossa avó pede para nós todos irmos morar na sua casa pra lhe fazer companhia, porque dois dos meus irmãos já haviam casado.

Minha mãe exultante afirma:

--- isso mesmo meu filho, está por dentro dos acontecidos, mas você sabia que poderíamos ter perdido a casa, porque a sua avó Mãe Chica não tinha casado no civil, só casou na igreja?

--- sabia sim, mãe e além disso algumas de outras propriedades dele, a mãe Chica não conseguiu possuir.

MAS AÍ JÁ É OUTRA HISTÓRIA, PARA NÃO ALONGAR A CRÔNICA...