Através do vidro

No carro, trânsito lento, farol fechado, chovia lá fora. Através da janela do carro avistei uma menina, seu corpo franzino, sujo, a sua roupa rasgada, em suas mãos um saquinho de cola, ela dormia no chão sujo e molhado, embaixo da marquise de bar, ainda fechado. As pessoas que passavam por ela não a notavam, era como ela não estivesse ali deixada à própria sorte, aguardando, talvez, o tempo passar em sua morte lenta. Será que nós somos tão diferentes dela, ou seria ela tão diferente de nós, seria ela um ser de outro mundo ou seríamos nós. As pessoas continuavam a passar por ela, uns desviando com medo, nojo, ou receio talvez de serem atacadas por aquele corpo sujo, magro e sem forças. Em que mundo nós vivemos? Onde será que foi se esconder os sentimentos?

Vivemos em um mundo hipócrita, onde somente os mais fortes sobrevivem em seus casulos e escondidos em seu próprio mundo sem sentido e sem razão, vivemos em busca de poder, luxuria, sexo, dinheiro, bens materiais entre outras coisas fúteis. Vivemos em um mundo em que o amor é parte do negócio, vivemos em um mundo em que se querer bem ao próximo pode ser crime. Nós esquecemos que chegamos a este mundo nu e sem nada e do mesmo jeito que viemos vamos partir, sem levar nada...

Mas quando partimos poderemos levar alguma coisa em nossa bagagem, poderemos levar as coisas boas que fizemos, poderemos levar o amor que sentiram por nós, poderemos levar a felicidade conquistada nas coisas simples da vida, poderemos levar as nossas alegrias e talvez os nossos sonhos realizados.

O mundo vai continuar, uma vida termina, outra chega, ver o mundo de uma outra forma é necessário, talvez, ver o mundo com mais amor ao próximo, devemos mudar antes que a nossa vida termine, tão vazia, da mesma maneira que chegamos aqui, sem nada.

Às vezes me pergunto: Qual a razão da vida? Qual a razão da nossa existência? Tudo que vejo é a hipocrisia, a ignorância, a intolerância, entre outras qualidades não tão boas. Talvez ter amor no coração seja melhor do que se ter um deus na mente, pois o amor é um sentimento real e verdadeiro, quanto a deus, é apenas um dogma.