Grande ator e grande pessoa

Eu me lembro... Era ainda um adolescente e assistia àquele inesquecível faroeste brasileiro –‘Irmãos Coragem’ –, estrelado por Tarcísio Meira. O personagem era bom, e o ator transbordava, também, a imagem de uma pessoa, que, fora do ‘set’ de filmagens, devia ser mesmo um cara legal. E ele parece ter ficado no imaginário brasileiro como um boa gente, um ator que não se deslumbrou com o sucesso.

Vida foi passando... As atividades de magistério à noite me impediram de acompanhar mais detalhadamente o trabalho do ator na tevê, mas o vi no cinema algumas vezes, como na bela interpretação em ‘Quelé do Pajeú’ e no ‘Independência ou Morte’. Aqui, pelas minhas terras, quem passou foi sua querida esposa, também uma excelente atriz, nas palavras, inclusive do marido, que, talvez com certo distanciamento, propalava o desempenho da bela mulher.

A verdade é que Tarcísio, se deixa um importante legado na arte, também o deixa no comportamento de homem simples, amigo dos atores e pessoa generosa – a julgar por depoimentos que ouvimos nos dias seguintes à sua morte, em decorrência de complicações desse mal do nosso século. A notícia impactou, inclusive, a CPI da Covid, que, tão logo a recebeu, na manhã de 12 de agosto, homenageou o ator com merecido minuto de silêncio.

Em entrevista ao Roda Viva, Tarcísio – sem eufemismo para si – usa o termo ‘reprovado’ para se referir à sua tentativa frustrada de ingressar na diplomacia, para sorte de tantos que viriam a acompanhá-lo na arte da interpretação, não só na tevê e no cinema, mas também no teatro. Em outra entrevista, o ator fala do sucesso do personagem capitão Rodrigo, embora ele, novamente sem eufemismo, confessasse que não sabia cantar nem tocar violão. Eis a marca de humildade, de sinceridade, de realismo de quem se mostrava – sem máscaras – um homem consciente de suas limitações! Um exemplo, neste mundo de egos estampados!

Tony Ramos diz que o ator ajudou muita gente e, assim como fazem os verdadeiros cristãos, nunca propagou o que fez – e Stepan Nercessian f aponta também para a mesma linha da discrição, do silêncio de quem ajuda o próximo. Ambos ,Tony e Stepan – não detalhando nada – nada mais fizeram que ser fiéis ao amigo.

Compartilhando o sentimento nacional, revi algumas entrevistas do ator, disponíveis na internet. E notei-lhe outro amor, outra preocupação. Tarcísio – de esmerada educação – era muito zeloso com o idioma, respeitando-lhe a sintaxe mais culta, o vocabulário adequado – sem, naturalmente, como bom comunicador, bloquear a oralidade necessária ao momento. Um exemplo!

Deixo, aqui, meu pequeno registro, minha pequena homenagem, fruto de lembranças e de leituras, vídeos e áudios nestes últimos dias. De pessoa famosíssima, só tenho autógrafo de Nílton Santos, o grande craque do Botafogo e da Seleção. Tarcísio Meira até poderia ser o meu segundo, morasse eu lá para as bandas de Porto Feliz, onde ele andou conversando e esbanjando carisma.