Deu a cArA pra bater — e então sE sEpARaRam

Era um casal muito harmônico, no amor e no ódio.

Ela e ele repartiam as máscaras de proteção contra Covid, que faziam questão de produzir de forma caseira a partir de peças íntimas um do outro — cujo fetiche era pela cor vermelha.

Fabricavam juntos (e amorosamente) as bombas caseiras e os instrumentos cortantes que usavam durante as manifestações a favor da democracia e da paz, sendo um casal muito conhecido nas delegacias das cidades por onde passavam.

Praticavam juntos os rituais de magia negra onde figurava sempre uma cabeça artesanal da pessoa que mais odiavam, que era justamente aquela autoridade máxima do país e que era responsável pelo tal “Gabinete do Ódio” — coisa que achavam um absurdo, quando alguém funda um grupo para odiar a quem odeia.

Até que aconteceu um episódio que terminou com aquela linda união de verdadeiras almas gêmeas.

Não foi algo muito sério na opinião geral. Mas foi o suficiente para acabar com um amor tão lindo.

É que o marido (sindicalista desocupado) queria bater panela como de costume, da sacada do apartamento, durante um pronunciamento do Presidente da República. E, então, ele presenciou quando a amada esposa entregou nas mãos da filha aquela panela caríssima que ele mesmo tinha presenteado a ela e que havia custado “os olhos cara”.

Ele ainda tentou impedir, protestou com o olhar e com gestos das mãos, mas não teve jeito: o amor de sua vida, com tantas panelas em casa já amassadas... deu A CARA para bater.

Fim de um lindo relacionamento baseado no “amor ao ódio”.

::::::::::::::::::::::

Da série: “Panela funda, dos outros, no seu é besteira”