SOBRE O BEIJO
Vinha eu pela rua do Ouvidor, quando se me depara o grande primeiro ator Manuel Pêra. Pela rua do Ouvidor, sim. Sou conservador e a referida via me continua sendo a velha e tradicional rua Ouvidor. Entre mim e o Pêra como que acabava de realizar-se uma transmissão de pensamento, pois ia, mesmo, "torcendo" por vê-lo na cidade. Inteligente e cheio de bossa, poder-me-ia ser bem mais útil do que qualquer literato sediço.
- Olá, Pêra! Nem de encomenda...
- Como vai o senhor, Conselheiro?
- Vinha agora mesmo pensando em me encontrar com você.
- Que temos de novo?
- Preciso que você me tire de uma "sinuca".
- Ora, Conselheiro!... Quem sou eu para acompanhar Nosso Pai fora de hora? Em que posso servi-lo, Conselheiro?
- Prometi à Alda Garrido escrever, n´O ESPÊTO, uma crônica sobre o beijo, esquecendo-me, no entanto, de que o assunto é dos mais esgotados.
- Realmente. Vem de quando Adão e Eva se beijaram, pela primeira vez, naquela "marmelada" de maçã, passa pelo beijo de Judas e chega até ao beijo cinematográfico de hoje.
- De modo que é quase impossível apresentar coisa inédita.
- O recurso é lançar mão do que há sobre o beijo e fazer novidade na feitura da crônica.
- Bem lembrado. Então recapitulemos.
- Comece o senhor.
- Para o filósofo, o beijo é nada, e, como o nada, pode gerar muita coisa...
- Para o médico, o beijo é um dos transmissores dessas erupções que não dão em poste da Light...