Ó tempos! Ó costumes!

Vai longe o tempo em que as pessoas se comunicavam por telegramas, sob domínio do Morse. Telex, fax, e-mail, tudo com o seu tempo determinado, como assevera o Eclesiastes. As redes sociais encheram-se de componentes, entre eles o WhatsApp. Mudam os meios com o tempo, os costumes, permanecem. As funções que antes eram praticadas de uma maneira, ainda continuam, mas agora com o uso de outras variações. O modo áudio, por exemplo, forma de enviar mensagens via zap, democratizou a comunicação nesse meio, passando a contemplar também os iletrados. Assim, o comando de ordem “mande um zap!” tornou-se expressão derradeira na comunicação. Quer parabenizar alguém? Mande um zap! A memória não ajuda? O Facebook está aí para alertar sobre a efeméride. Desta forma, a tecnologia ajuda a ser educado, cabendo à pessoa fazer a sua parte com a saudação, espalhando um pouco de contentamento pela rede. Quem não fica feliz por ser lembrado? Mas uma coisa é um “parabéns pra você” escrito na tela do celular; outra é receber uma ligação da pessoa lembrando do seu natalício. É, ou não é? Está aí a diferença entre o que é ser educado (que todos têm a obrigação de ser) e ser gentil, cortês, lhano ou qualquer outro termo que designe que você se importa verdadeiramente com a pessoa, a ponto de dedicar um pouco do seu tempo a conversar com ela e expor o seu contentamento com a passagem de mais um ano em sua vida.

Segue a história. Lembra do tempo em que se fazia visitas às pessoas? Já são quase dois anos que a pandemia nos privou desse contato. Mas funcionava mais ou menos assim: “Posso lhe fazer uma vista na sexta feita à noite?” Aí a pessoa se preparava para isso. Arrumava a casa, colocava a roupa domingueira, a bebida para gelar, além de outros preparativos. Quando a visita chegava, a pessoa estava pronta para recebê-la. Como esses contatos presenciais foram reduzidos pela pandemia, restou (novidade dos tempos) a vídeo chamada, que nada mais é do que uma visita a alguém em seu ambiente privado. Sendo assim, da mesma forma como se anunciava a visita à casa, essa ida à intimidade do outro também deve ser anunciada. ”Posso fazer uma chamada de vídeo pra você?” É de bom tom proceder assim. Sabe Deus como a pessoa que recebe a tal chamada estará naquele momento podendo, num descuido, atender sem se dar conta de que a outra estará lhe vendo naquele momento, do jeito em que ela estiver. Constrangimentos? Talvez, não é?

E quem disse que para por aí? Lembra do famoso telefone preto? Assim era a maioria dos aparelhos fixos que pessoas com algumas posses tinham acesso, antes que os telefones celulares multicoloridos existentes fossem mais que os duzentos e treze milhões de habitantes do país. Era assim, você ligava para falar com alguém e, ao ouvir o toque, a pessoa de cá dizia: “se for fulano, diga que não estou.”, iniciando a primeira lição com o capítulo “inocentes” mentiras. A tecnologia também interferiu por aqui e até facilitou a vida dos que querem se esconder. Sendo uma ligação, ao identificar o autor da chamada “inconveniente” é só não atender. O “estava no silencioso” é uma boa desculpa para um “liguei, mas você não atendeu”. Mas pode também ser uma mensagem. Na hora em que fica azul é sinal que a pessoa a viu e, sendo assim, vai ter que se explicar: “você viu a minha mensagem, mas não respondeu”. É claro que você pode desativar essa função e, se não for conveniente, não respondê-la. Como não ficou azulzinha, a outra pessoa jamais saberá se você viu ou não. É ou não é parecido com o “se for pra mim diga que não estou?”

O tempora, o mores, como teria dito Cícero. Evoluímos no tempo, na tecnologia, mas os costumes nos acompanham.

P.S. Alguém poderia dizer: que texto mais chato, vou “cancelar” esse cara, que acabou como sinônimo de “ficar em mal”.

Fleal
Enviado por Fleal em 07/09/2021
Reeditado em 10/09/2021
Código do texto: T7336916
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