HISTÓRIA DE UM SERTANEJO

O sertanejo, com um certo ar de melancolia, passa horas a fio contemplando da varanda da casa rústica, aquela paisagem acinzentada e tangenciada por um vento morno, sob um sol forte e inclemente de meio-dia e o céu de um azul intenso, onde deslizam muito lentamente algumas nuvens brancas, brancas quais flocos de algodão puro. Enquanto isso, na cozinha, a mulher cantarolando em baixo volume (“Quem canta seus males espanta”), prepara os últimos e minguados grãos de arroz e feijão para a janta que ora se aproxima.

No dia seguinte, mal rompe a aurora, seus passos lestos já se vão serpenteando por entre caatingas e morros; e nas margens e flancos dos rios e riachos secos, na busca incessante da fonte “Salvadora da Pátria”, onde por um momento ele imagina plantas vicejantes, graças a esse manancial divino, qual um oásis em meio à imensidão do deserto.

São, portanto, esses pensamentos férteis que alçam voo e fazem suscitar naquele sertanejo uma esperança imensurável. Conclamamos assim, uma Boa-nova, e que seus anseios, seus sonhos, não desapareçam na escuridão de uma noite mal dormida.

Não, não é seu fadário, nem é fatalismo. Tudo isso é fenômeno natural climático associado às relações sociais advindas de um longo processo histórico que nos foi imposto. Não adianta, porém, ficar inerte “olhando o bonde passar”; e mesmo em meio a esse turbilhão de adversidades, o sertanejo procura engendrar uma maneira lícita de galgar gradativamente os obstáculos que o impedem, às vezes, de “ver o sol nascer”, proporcionando-lhe um bem-estar condizente com a sua força, com a sua coragem, com a sua autenticidade de filho do sertão.

Há quem afirme equivocadamente, que no dicionário do sertão não aparece a palavra opulência. Não se deve jamais rotular de infrutífero e inviável o nosso sertão, pois é bem verdade que, ao contrário do que se propaga, no sertão de terras boas e fecundas, em se plantando tudo dá. Basta, para isso, molhar o chão natural ou artificialmente. Aliás, “alegria de sertanejo é essencialmente chão molhado”.

O sertão é viável, sim. E a chuva é a melhor “panaceia” para os “males” da região.

É a chuva que propicia a harmonia profícua do homem do campo com a terra. Por isso, é extremante triste quando eclode a seca que vem assolar a região, causando sérias e terríveis consequências.

Devemos, portanto, segurar com firmeza no corrimão da escada da esperança, para que um dia, mais felizes, possamos, como aquele forte sertanejo, nos inflar e entoar o nosso hino em cada amanhecer em homenagem a essa “terra querida, filha do sol do equador”.

Picos-PI, 15 de fevereiro de 2002.

Edimar Luz

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 14/09/2021
Reeditado em 14/09/2021
Código do texto: T7342360
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.