Mãe

Quando você se foi, levou metade de mim.

Mas, pra minha surpresa, deixou em mim metade de você.

Você está na minha satisfação por ter acesso a prazeres diários, na tarefa árdua que é, antes de mais nada, colocar-se no lugar do outro, na vida que passa a ter sentido por alguém e que, também, seria integralmente dada a esse alguém.

Mas, principalmente, você está em mim no seu sorriso lindo e largo que se perdeu no tempo e na história, mas que se apresentava genuíno diante dos seus olhos tristes e verdadeiros.

E, falando nos seus olhos tristes, você sempre os viu em mim. Acredite: hoje eles estão ainda mais presentes.

Demorei a entender a semelhança que você via entre eles, mas hoje sei que não tem a ver com cor ou formato, mas sim com profundidade.

Esse mundo era pouco pra você, mãe. E, infelizmente, eu tenho, a cada dia, me dado conta de que, também, não é o suficiente pra mim.

Mas, da mesma forma que você deixou uma parte sua em mim, eu deixei uma parte minha na minha filha, sua neta. Na verdade, todas somos uma, e eu vou fazer o possível pra que ela receba todos os valores que você me passou.

Você renasce em cada sorriso meu, em cada lembrança da Maria Catarina e no rastro de amor que deixou por todas as pessoas com quem conviveu.

Você vive, mãe... eu sou a prova disso.

E, hoje, acredito: a história não acaba aqui.

Até breve.