Confissões de um teatro

Confesso que ando um tanto desencantado com a vida. Também não é para menos... Ao longo dos anos, desde que nasci tive dias de relevante importância, de grandes alegrias e glórias. Sempre fui a forma que o homem descobriu para manifestar seus sentimentos de amor, ódio e dor.
Fui palco de deuses e heróis, de grandes emoções, de choros e risos, tanto de gente grande quanto dos pequeninos.
Tudo bem que já quase morri. Com o advento do Cristianismo, quando eu ainda era uma criança e começava a caminhar, por falta de apoio, me acharam pagão. Adormeci o triste sono da desilusão... Tristes tempos aqueles!
Mas me acordaram os nobres e reis e voltei a crescer, caminhando para a glória. Incansável dei espaço aos grandes concertos, onde a música dos grandes mestres ficou impregnada em minhas paredes. Grandes tempos...
Também fui palco de grandes tragédias, de dramas e comédias, de bailados apaixonados. Vi centenas de vezes olhos brilharem de encanto diante do Lago dos Cisnes, do Quebra – Nozes do mestre Tchaikovsky, dos Pas de bourée, Pas de deux e Grand Plié.
O tempo foi passando e eu me agigantando. Veio a modernidade, depois a globalização e eu fui perdendo meu espaço. Já não me amam tanto. Em alguns lugares estou até deteriorando. Tomo chuva em meu interior, minhas cadeiras estão rasgadas, minhas luzes quase apagadas. Quantas vezes tenho sido trocado por shows em estádios, aglomerações de massa... Em pleno século XXI, eu Teatro, perdi a graça.
O que me consola é pensar que um dia já fui rei, adormeci e voltei. Estou triste sim, mas não perco as esperanças. Vou lutar e quiçá nem tenha tanto que esperar pelo meu novo renascer.
Augusta Schimidt
Enviado por Augusta Schimidt em 19/09/2021
Código do texto: T7345932
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