Bolsonaro na ONU: sucesso retumbante.

Ontem, dia 21 de Setembro de 2021, o presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, no discurso de abertura da reunião anual da Organização das Nações Unidas, apresentou, assenhoreado pela ambição, nobre e humana, de um aguerrido, destemido, voluntarioso e abnegado combatente da Democracia, da Liberdade e da Justiça, em um pouco mais de dez minutos, numa oratória límpida, num estilo primoroso, com a dicção dos mestres helênicos da arte do bem falar, numa retórica vazada nos moldes clássicos do exercício correto e justo da exposição das idéias, as suas políticas, que se coadunam com as dos vanguardistas do espírito humano; e encerrado o seu discurso, ovacionaram-lo e o aplaudiram, estrondosamente, em pé, os chefes-de-estado presentes no prédio da Organização das Nações Unidas, todos eles, enquanto ele discursava, a ouvirem-lo, atentamente, embevecidos, alumbrados com a ínsigne postura do líder nato da nação mais rica e próspera da América do Sul; e os efusivos aplausos os congêneres do representante brasileiro os estenderam até se cansarem, durante quarenta e quatro minutos. Nas horas que se seguiram e no dia de hoje, jornais de todo o mundo e sites e emissoras de televisão estamparam a venerável figura do presidente da República Federativa do Brasil, acompanhada do discurso magistral que saira da boca dele, um estadista, o personagem de maior importância de toda a história da nação que se formou a partir da amálgama, em seus primórdios, de lusitanos, africanos e nativos ameríndios pré-colombianos, com a contribuição posterior de ingredientes étnicos e culturais de outros povos. Estas palavras, poucas, estão aqui inscritas para enaltecer o valoroso presidente do Brasil, um herói de escala universal. Não nos estenderemos, neste artigo, os louvores ao senhor Jair Messias Bolsonaro, coquanto ele mereça todos os concebíveis, e, esculpida em bronze, uma estátua titânica de sua portentosa, apolínea e hercúlea figura. Aqui encerrado o parágrafo que dá aos nossos leitores a conhecer a participação do lídimo e legítimo representante do povo brasileiro na reunião anual da Organização das Nações Unidas neste 2021, reproduzimos, no parágrafo subsequente, dele, o eloquente discurso, discurso, este, uma obra-prima da retórica política que merece atentas e reverentes leituras e releituras. Eis o discurso do ilustríssimo presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro:

Amigues, hoje, eu, o presidente do Brasil, estou, aqui, para anunciar a todes as políticas politicamente corretas, comunistas, socialistas, de ideologia de gênero, marxistas e leninistas, que estou, eu, Jair Messias Bolsonaro, proponente da extinção das soberanias nacionais, a voz do Estado brasileiro, eu, Jair Messias Bolsonaro, o Estado, eu, Jair Messias Bolsonaro, a Opinião Pública Brasileira, obediente ao Governo Mundial, a implementar, em todo o território brasileiro, punindo todo cidadão brasileiro recalcitrante com o fuzilamento, as políticas que irão fazer do Brasil um paraíso socialista tecnocrata transhumano e cientificista. Fuzilei, fuzilo e fuzilarei ao paredão todo indivíduo hostil, de mentalidade fascista e nazista, de temperamento genocida, capitalista, ocidental, supremacista branco e cristão fundamentalista e intolerante. A religião é o ópio do povo. Deus é um personagem do tempo do nunca, do arco-da-velha, das histórias da carochinha de nossos avós brutos e asselvajados, adorado pelos energúmenos medievalistas, preconceituosos e fanáticos crentes que estão sempre a sobraçar o livro, que eles têm na conta de sagrado, recheado de baboseiras folclóricas, lendárias, de um povo rude, bárbaro, inculto e ignaro. A família, esta instituição opressora, burguesa, capitalista, favorece o exercício autoritário, ditatorial, totalitário do patriarcado sexista e machista, e dela tira seu poder máximo o homem cristão, ocidental, branco, loiro e de olhos azuis. A religião é o ópio do povo. O Grande Satã tem de ser aniquilado. Todo o poder aos proletários! Abaixo a burguesia! Eu odeio a classe média! Há lógica no assalto. Proletários de todo o mundo, uni-vos! Vivas à revolução! Para salvarmos a Terra urge extirpar-lhe o tumor cancerígeno maligno que muito mal lhe faze: a espécie humana. Vivas à Mãe Gaia! O Estado sou eu! A opinião pública sou eu! Iniciemos o processo de renovação da natureza removendo do útero das fêmeas da espécie humana o amontoado de células, coisa inerte e sem vida, bizarra e anômala, que, no interior dele, os homens inserem numa quantidade que elas ignoram. Todo o poder às mulheres empoderadas! Às pessoas sem vagina, dotadas de masculinidade tóxica, o paredão, destino reservado a todos os seres que não sabem qual é o seu papel na história, papel que o partido lhes reserva. Salvemos as baleias! Salvemos os pandas! Salvemos as tartarugas marinhas! Regulamentemos a mídia e a internet para que elas não disseminem dos conservadores fascistas e nazistas e genocidas fakes news e discursos de ódio. Exterminemos o gabinete do ódio conservador! Todo poder aos soviétes e aos chins! Fidel Castro e Che Guevara, olhai por nós! Marx e Engels, orai por nós! Lênin e Stalin, olhai por nós! Mao e Pol Pot, orai por nós! Não há dois sexos. Há setecentos e noventa e quatro gêneros, ensinam-nos os heróis do movimento. Abaixo a ditadura dos capitalistas opressores! Que os filhos libertem-se dos grilhões com que seus pais lhes manietam os movimentos! Fim aos tabus! Enalteçamos o amor intergeracional! Louvemos os novos tipos de família! Abaixo a família tradicional, arcaica, opressora, liberticida, pecadora! Vivas ao amor com os animais, com as plantas, com os objetos, com os cadáveres! Que aos inúteis à paz socialista seja oferecida a morte digna via injeção letal, ou por envenenamento, ou enforcamento, ou fuzilamento. Enviemos os inimigos da paz universal aos campos de reeducação, instrução e treinamento. Que as crianças não vivam na companhia de seus pais, seres opressores, que as maltratam durante sessões diárias de tortura psicológica de inspiração cristã! Que nenhuma pessoa tenha direito à legítima defesa! Que a educação e a segurança fiquem a cargo do Estado, exclusicamente do Estado. Fiquemos em casa; a economia veremos depois. Que ninguém se retire, à rua, de sua casa, até segunda ordem. Prisão aos refratários aos decretos estatais. Internacionalizemos a Amazônia, e o Pantanal, e o Mangue, e a Chapada Diamantina, e os Lençóis Maranhenses, e Fernando de Noronha, e a ilha de Marajó, e Parintins, e o Recôncavo Bahiano. O homem branco é racista; é racista de espírito; é mal; é iníquo. Amigues, sei que estas minhas palavras, poucas, ecoam no espírito de todes vocês. Unidos, iluminaremos, guiados por cientistas renomados, a mente dos humanos; e aos que optarem por permanecerem à escuridão oferecemos um paredão e um cárcere e lhes daremos o direito de escolher o que entenderem que lhes seja a melhor das duas opções, que lhes deixaremos à disposição. Tenhamos um bom dia, amigues. Fidel Castro e Che Guevara, olhai por nós! Marx e Engels, orai por nós! Lênin e Stalin, olhai por nós! Mao e Pol Pot, orai por nós!

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Nota de rodapé: Inútil é dizer, digo, todavia: o discurso aqui apresentado é uma peça de ficção; e o Jair Messias Bolsonaro que o proferiu não existe - se existisse, cá entre nós, amá-lo-iam e o idolatrá-lo-iam onze de cada dez de seus inimigos.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 22/09/2021
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