QUANDO NOS FALTA HOMBRIDADE

QUANDO NOS FALTA HOMBRIDADE

É fato que temos uma classe política perdulária, fútil e narcisista. Mas seriam atributos ruins, se não fossem outros bem piores, como a falta de hombridade e a busca incessante por locupletação, poder imensurável e uma insistente procrastinação do que se faz basilar para a sustentação do ideal de mister que se prega para essa casta.

Os políticos deveriam sê-lo por vocação e interesse comum, nunca por intenções e ambições pessoais. Afinal, não somos como os animais selvagens e carnívoros, que pautam o agir pela força e busca de perpetuação genética. Mas somos fruto do uso incessante da capacidade neural, como motriz dessa perpetuidade do ser social que se pretente, visto que o cerne genético se ofusca, à medida que nos entendemos como seres superiores por seu conjunto de valores, e não por caracteres hereditários meramente.

Tenho saudades, mesmo que ciente de muitos erros de outrora, dos tempos em que a política era praticada por idealismo, sem salários para torná-la uma fugidia e obscura profissão. Mas, os militares que estiveram no poder nacional, entre os anos de 1964 e 1985, buscando apoio ao esquema repressor e de domínio, desde 1977 passaram a remunerar a todos os vereadores brasileiros, e não mais somente aos edis de capitais e grandes cidades, numa flagrante cooptação de subserviência ao poder militar.

Sou da premissa de que os núcleos habitacionais menores não precisam remunerar seus edis, e nem tê-los em grande número, que só serve para inchar a máquina pública e o orçamento desnecessariamente gasto. Inclusive, a falta de critérios mais saudáveis para o currículo necessário a um edil ficou de fora. Afinal, as únicas exigências de agora são a nacionalidade, a maioridade, a formal idoneidade e não ser analfabeto.

Os critérios de hombridade no nosso país sempre foram desvirtuados pelos "cidadãos de bem", que do bem nada têm, pois objetivam apenas o ter material, iletrado e monetário. E isso reflete no desenfreado consumismo, o qual, quando reprimido ou impedido, muitas vezes descamba para as depressões e consumo de entorpecentes, sejam lícitos ou ilícitos, quando não à loucura que destrói os indivíduos e a própria sociedade.

Vivemos numa democracia mesclada e gestada por autocratas e plutocratas, todos mancomunados com a elite econômica mundial, mantendo o Brasil como colônia baseada no extrativismo e na economia primária, onde se produz apenas a matéria prima, prevalecendo a escravidão velada e pautada em impostos de 2/5 do PIB, quando em épocas imperiais eram de questionáveis 1/5, que gerou o apelido de "quinto dos infernos".

Nesse atual estágio da sociedade brasileira, iludida por "salvadores da pátria", e enriquecida pelo baixo nível educacional e intelectual, o povo é presa fácil dos pretensos guardiões da família e dos bons costumes, das religiões e das tradições.

Todavia, qual tradição estaremos a defender, se não temos guarnecida a nossa própria história, se não conhecemos nossas árvores genealógicas e muitos não sabem até quem são seus pais. Nossa memória social é péssima, pois não lemos, não estudamos e nem ouvimos bem, nos prestando ao colóquio dos papagaios, falando por falar, mas vivendo sem viver.