Leitura e memória

As pesquisas quase sempre dão o que falar. Em época de eleição então, o falatório se acentua. Os que saem na frente, só louvam. Já os que estão na rabeira, tudo fazem para detratá-las. Nesses tempos de pandemia, a pesquisa associada à ciência, se impôs, mesmo não sendo unanimidade devido a poucos descrentes. O fato é que há pesquisa pra tudo e pra todo gosto. Cito duas delas que me dizem respeito, em consequência dos meus lados educador e idoso. A primeira é assunto recorrente: a falta de hábito de leitura do brasileiro. A outra é sobre memória e a sua relação com a leitura.

A relativa ao costume de ler deriva do estudo Retratos da Leitura no Brasil, para o Instituto Pró-Livro e revela que 28% dos entrevistados não gostam de ler. Perguntados sobre o que fazem no tempo livre, a leitura é a décima opção dos inquiridos, que preferem, majoritariamente, 67% deles, ver televisão ou usar a internet. Anima saber que 82% dos que responderam à pesquisa gostariam de ler mais, não o fazendo pela falta de tempo, como afirmaram 47% dos não leitores.

A outra pesquisa apresentada no Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, faz parte do trabalho do neurocientista Ivan Izquierdo, falecido recentemente, reconhecido como um dos principais investigadores da memória no mundo. Esses estudos dizem respeito à memória dos idosos, revelando como a leitura pode ajudar a aumentar a durabilidade das lembranças. É real que os mais velhos lembram com detalhes fatos da infância, mas muitos deles têm dificuldade em relatar, por exemplo, o que comeram na última refeição. É essa durabilidade das lembranças que anda sendo estudada. Para o cientista, enquanto não se descobre um remédio que a aumente, é possível atenuar o problema com um hábito que, segundo ele, é o melhor para estimular a memória: a leitura.

Isso porque, segundo Izquierdo, “a leitura envolve memória visual, verbal, relação com o contexto, tudo isso processado em milissegundos. Quando lemos, fazemos um scanner do universo inteiro que o cérebro conhece. Não há nenhuma outra atividade cerebral que chegue perto disso. Fazer palavras cruzadas, por exemplo, ajuda, mas ler ajuda muito mais”.

Para entender como essas informações se associam, alguns números. Dados do IBGE relativos aos anos 2000 comprovam que, na última década do século XX, houve um declínio considerável nas taxas de analfabetismo, caindo de 20,1 para 13,6%, em 2000, chegando a 6,6% em 2019. Só que, em números absolutos, isso representa ainda quase 11 milhões de analfabetos. Mais um dado: o IBGE considera ainda um outro tipo de analfabetismo, o funcional – sabe reconhecer letras e números, mas é incapaz de compreender textos simples ou de realizar operações matemáticas mais elaboradas - que atinge 29% da população. Por outro lado, ainda segundo o Instituto, são quase 30 milhões de idosos no país.

Juntando essas informações (analfabetos plenos + funcionais) vê-se que, boa parte da população total, situa-se em uma categoria ou outra, desfalcando o número de pessoas alfabetizadas plenas, em condições de ler e entender o que leu. Como visto a pesquisa revela que 28% não gostam de ler. Dessas, é provável que um bom número refere-se às pessoas com mais de 60 anos. Qual o futuro, então, desses seres? A demência, sem dúvida, a médio e longo prazo, pode imperar, uma vez que o remédio para a durabilidade da memória ainda não foi descoberto e o atenuante, a leitura como hábito, não consegue se impor. TV e celular desligados, trocados por livro na cabeceira, ajudariam muito. Mãos e mentes aos livros!

Fleal
Enviado por Fleal em 28/09/2021
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