A capucheta

Ela nem sequer fazia sombra, só teimava em ser mais uma.

E aquele frágil "papagaio" - que alguns mal humorados chamariam pandorga - feito de jornal (“A Gazeta Esportiva” jornal utilizado por garotos que tinham pais conectados aos esportes, “Jornal da Tarde” para filhos de pais que se consideravam de vanguarda. “Estadão” para famílias de pais sisudos ou a “Folha” para os mais ligados à Cultura; já o “Notícias Populares” era muito utilizado pelos, digamos, mais populares, aqueles que gostavam de notícias um tanto quanto escabrosas, chegadas ao estardalhaço, mas muito reais, o dia a dia da cidade sem retoques) revoluteava no céu desses meninos.

Nos ares do Brasil, acenavam para o povo cultura, informação, opiniões diversas, política, viagens, filmes, lançamentos imobiliários, receitas e sangue; muito sangue pra todo lado.

Mas a capucheta não tinha nada com isso, só queria voar.

Não chamava atenção como os pipas, os quadrados, os peixinhos, os maranhões que eram, esses sim, os verdadeiros papagaios. Geralmente quem fazia capucheta não sabia fazer similares mais rebuscados ou, muitas vezes, não tinha dinheiro para comprar os apetrechos, como papel de seda, varetas, cola, linha 24 etc. Capucheta era legal porque ninguém se preocupava “em cortar” então elas voavam livres enquanto havia vento e enchiam de alegria o céu desses meninos até que o vento – e depois o tempo – se encarregasse de arrebentar a linha e carregar.

Luizinho Trocate
Enviado por Luizinho Trocate em 30/09/2021
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