UEL, cinquenta anos

Passar no vestibular não foi fácil. Trabalhava de dia, estudava à noite, e ainda ajudava minha mãe nos afazeres domésticos. Fazia tudo com sacrifício, mas com muita alegria e gana de vencer. Não tinha como pagar a inscrição do vestibular mas, uma professora generosa, D. Lucilia, me ajudou. Os trotes daquela época eram pura diversão. Eu e meus amigos participamos com alegria no coração. Era preciso celebrar o momento. Os primeiros meses do curso de letras anglo-portuguesas foram realizados no Hugo Simas, mas logo nos mudamos para o Perobal, como foi batizada a UEL, no complexo do CCH. Inauguramos suas salas novinhas, com cheiro de amianto e oportunidades. A impressão que hoje tenho é que, à época , era um caminho muito mais longo que o atual. As dificuldades eram imensas. Morava na Vila Portuguesa, no popular buracão. A minha rua não era asfaltada. E, nas noites de chuva, amassava o barro vermelho, pegajoso, até chegar em casa. Uma casa simples, de madeira, sem pintura e sem portão. Tomava dois ônibus para chegar ao perobal e, ao chegar em casa, quase meia noite, minha mãe lá estava me esperando no relento. Mas, todo sacrifício engrandece nosso ser. Hoje me passa um filme: as aulas de latim com o professor Ernesto, de Domingos Pelegrini, na imensa lousa, apaixonadamente, escrevendo poemas de Neruda, de Drummond, de português com o Querubim, de literatura inglesa com a Mary Beth, On the Beach, The adventures of Tom Sawer, os amigos que fiz, Dalva Molina, Meriko, Vera Lucia Pagani, Nilson Monteiro, Helena Morioka, Vilma Oricolli, e tantos outros; as noites de lua cheia no imenso céu estrelado, sobre as perobas seculares, o ar puro da atmosfera e do aprendizado da vida. Mas, também, as noites de temporal: quando havia apagões e éramos dispensados, aquele breu no ponto de ônibus, iluminado apenas pelos raios que cruzavam o céu, metia muito medo. A UEL fez parte da minha história, indicou os passos para as minhas muitas conquistas e realizações. Fizemos parte das primeiras turmas a receberem diplomas pela UEL. E fico a pensar: quantos milhares de alunos não pisaram aquele chão, não se debruçaram sobre aquelas carteiras, não realizaram ali seus sonhos e conquistas? Falar desse tempo me traz lágrimas de alegria e gratidão.

Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 06/10/2021
Código do texto: T7357509
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