CPI e os personagens da literatura
Enquanto o relator Renan Calheiros comparou um dos depoentes com Fabiano, personagem de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o senador por Sergipe, Rogério Carvalho, comparou outro depoente com Chicó, personagem do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Para quem conhece as duas obras, sabe que a comparação é depreciativa, apontando o lado negativo dos personagens, em obras de ficção. A do primeiro, a intenção foi chamar o depoente de covarde. A do segundo, chamá-lo de mentiroso.
A propósito, Ariano Suassuna, numa determinada entrevista, disse que "o escritor pode mentir, o jornalista não." Por isso, nessa sua mais conhecida obra do cinema nacional, criou um personagem mentiroso.
Entretanto, não deve servir de chacota para atores da CPI. Se, quando portando um habeas-corpus do STF, nele consta que "o depoente não deve sofrer constrangimento", fazer esse tipo de comparação não se configura um constrangimento?