De repente...

Nestes tempos sombrios, em que o mundo está pulsando na mesma frequência; aonde a dor é igual para todos e não poupa ninguém, mesmo seguindo à risca todas as recomendações das autoridades constituídas; tomando todos os cuidados e cercados de medos por todos os lados; ameaçados por falsas notícias que inundam nossas mentes diariamente e não bastando já sermos prisioneiros pela fragilidade da Segurança Pública, agora estamos reclusos por culpa de um invisível, imprevisível e poderoso inimigo, o qual conseguiu paralisar as atividades humanas por todo o planeta.
De repente, o inimigo bate à sua porta, ou pior: entra sem bater e se hospeda em seu corpo, se apossando de sua Vida. Após um breve exame, vem o diagnóstico: sintomas evidentes do Covid-19. 14 dias de isolamento doméstico e com redobrados cuidados. Mas, uma somatória de dores e mal-estares geral, faz com que o médico lhe indique uma TC do tórax, para checar os pulmões. Resultado na mão, nada grave em relação ao vírus vilão em questão, mas há um detalhe nas imagens que é preocupante: um pequeno nódulo num dos alvéolos do pulmão direito. O paciente é encaminhado a um Pneumologista, que após análise da TC e do laudo e, sem ter uma conclusão sobre o exame, aplica-lhe doses amargas de probabilidades sobre o nódulo. Isso, para quem já está angustiado com tudo o que acontece a cada novo dia, é a gota d’água. Instala-se o pânico na sua mente e você se vê entre a cruz e a espada; entre a ansiedade e a incerteza, quando ele te diz: “É um tumor. Tanto pode ser benigno, como maligno. Teríamos que fazer uma biópsia, mas, em se tratando de pulmões, é um procedimento muito complexo para colher o material para análise, num órgão tão insólito. Tem que anestesiar geral e, às vezes, até entubar o paciente”. Sem mais, encaminha-lhe a um médico cirurgião-torácico, em cidade próxima, para que se possa ter uma outra opinião sobre o caso. Pessoalmente, ligou ao colega e agendou a consulta no mesmo dia, para o horário seguinte. Você já sai do consultório, na sua cidade e, de imediato, vai para outro médico, noutra cidade, com o coração na mão e já esperando a extrema-unção. Atendeu-nos cortesmente, viu o exame, leu o laudo e, também, não pode concluir nada. Explicou o porquê das dúvidas e solicitou um novo exame. Este, seria mais abrangente, mais específico, portanto, mais conclusivo. Rapidamente marcado, em três dias o exame foi feito, já com o pré-aviso de que esse tipo de exame duraria, no mínimo, três horas, podendo se estender até seis horas. Mais momentos angustiantes, numa mistura explosiva fervilhando dentro da cabeça. Exame feito, seguem-se mais três dias para o resultado e o retorno aos médicos. O primeiro viu o novo exame, falou mais uma dezena de palavras estimulantes, incluindo termos médicos que não fazem sentido para leigos, e disse que ainda assim não teria como saber o que seria o bendito nódulo. Novamente encaminha-lhe ao segundo médico, já passando de vez o paciente e o caso para o colega cirurgião, sem antes fazer sua última previsão, desta vez mais branda: “Se for indicada a cirurgia, você vai se curar definitivamente, pois, o nódulo está isolado e sem ramificações”. Dia seguinte seguimos a Via Crucis, rumo ao médico da outra cidade. Chegamos trazendo a inoxidável Esperança, que habita em nosso coração, de mãos dadas com a inquebrantável Fé, que povoa a nossa mente. Após minuciosa análise do novo exame, nova decepção: “Ainda não tenho 100% de certeza do que poderá ser isto, indico cirurgia”. Detalhou o passo-a-passo, do pré-operatório até o pós-operatório. Justificando, ele confirmou o que o primeiro médico havia dito: de que a biópsia pulmonar envolve uma delicada cirurgia e que, por isso, decidiu que faria a cirurgia uma única vez, extirpando o nódulo, evitando-se uma segunda cirurgia, se viesse a precisar, após a biópsia. Seguiremos o prognóstico.
Próximos passos: autorização para a cirurgia, hospital, hemograma, avaliação cardiológica e entrevista com o anestesista. Procedimentos concluídos em uma semana. Chegou o abençoado dia da cirurgia e tudo correu bem. Agora, convalescer e aguardar o resultado da biópsia. Passaram-se trinta dias e o resultado não chega, mas o desespero sim. Após o quadragésimo dia, finalmente chegou. Retornamos aos médicos das duas cidades e ambos, ao lerem o laudo, ficaram perplexos, pois, não havia nenhum sinal de malignidade. Plausível diagnóstico: Sequela de uma antiga bronquiolite. A Vida é repentina, é como um de repente. Que Deus seja louvado!