A FEIRA LIVRE DE PICOS

A feira livre de Picos, considerada a maior do Nordeste Ocidental, há tempo vem sufocando o centro da cidade, principalmente aos sábados, dia sagrado e tradicional para a realização da mesma. Aliás, antigamente a nossa feira restringia-se ao dia de sábado. Porém, como é tradição, ela deve permanecer ali no mesmo local onde vem funcionando desde os primórdios de sua existência moderna, ou seja, desde os anos 60.

Podem-se encontrar na feira de Picos uma infinidade de produtos, artigos ou artefatos a preços relativamente baixos, favorecendo os consumidores.

É interessante notar as subdivisões da Feira de Picos de acordo com o produto comercializado em cada uma delas: feira do feijão, feira da rapadura/feira do doce, da farinha, dos animais, dos pássaros, do peixe, do milho, do arroz, das frutas, das bicicletas, dos produtos artesanais, dos calçados e confecções/roupas, dentre outras. E a parte principal, onde concentrava quase todas essas subdivisões naquela época, era desde antigamente chamada de Quadro da Feira, que corresponde à famosa e tradicional Praça Justino Luz, no centro de Picos.

Frequentavam a Feira de Picos, senhoras que usavam sombrinhas para resguardarem-se do sol, e senhores que usavam chapéu de massa e, principalmente, de palha de carnaúba; o primeiro era usado mais em ocasiões de passeio, e não propriamente de trabalho. Era comum também homem usar chapéu em várias outras ocasiões urbanas daquela época.

Os feirantes montavam suas bancas, tendas ou barracas de remoção fácil para então alojar e abrigar do sol e da chuva determinados artigos e mercadorias disponíveis aos consumidores. Naquela época, era aquele tipo de feira típico de uma cidade do interior nordestino, integrada ao meio rural. A grande quantidade de barracas na feira favorecia enormemente a formação de verdadeiros labirintos e emaranhados de estreitos corredores parcialmente sombreados por entre as inúmeras e variadas mercadorias expostas e à venda, por onde circulavam milhares de pessoas consumidoras em busca de produtos de que necessitavam.

A origem das feiras, prática comercial antiga e muito importante para os tempos modernos, talvez esteja relacionada à formação da produção de excedentes, onde houve a necessidade de troca, de intercâmbio desses produtos excedentes, em decorrência das sobras ou excessos de uns e também da falta e da necessidade de outros. Essa é, sem dúvida, a hipótese mais aceita quanto à origem das feiras livres, oficializadas somente durante o período medieval ou Idade Média.

Mesmo sendo agropecuarista, o meu pai também era um grande comerciante de feijão na Feira de Picos nos dias de sábado, onde também trabalhavam em dia de feira, alguns dos seus irmãos e um dos seus cunhados. Negociante, meu pai comerciava com feijão, na compra e revenda a grosso (atacado) desse produto, na feira do feijão, que abrangia toda a parte oeste do Quadro da Feira (Praça Justino Luz), que compreendia entre a via de circulação de veículos que liga as Travessas Benedito Reinaldo e Lourenço Pereira até o início da Travessa Urbano Eulálio, tendo como ponto de referência a Farmácia do Povo, de propriedade então do senhor Justino Luz. Durante certo tempo, o meu pai também comprava feijão em algumas outras cidades da região, tais como Jaicós e Santa Cruz do Piauí; e algumas vezes até na Bahia, região de Irecê, A Capital do Feijão.

Lembro-me dos montões de feijão em cima de grandes lonas estendidas sobre o calçamento revestido com paralelepípedo. E após o encerramento da feira e a consequente remoção das barracas, lonas e caixotes, centenas de pombos, aves columbídeas, pousavam em toda a extensão do Quadro da Feira, com o objetivo de se alimentarem de grãos de leguminosas e cereais que inevitavelmente ficavam espalhados pelo chão, como feijão, arroz, milho...

Contornando a Feira, ali na Praça Justino Luz, já havia uma infinidade de casas também comerciais e alguns outros órgãos, destacando-se, entre outros, a imponente e majestosa Catedral Nossa Senhora dos Remédios, na parte leste da Praça, assim como a Loteria a Pioneira do senhor Chico Taveira; a fachada norte do Mercado Público, ao sul da Feira; a Casa Cláudia, o comércio de Seu Militão, e o primeiro armazém-depósito do meu pai e de seus irmãos, bem naquele canto nas proximidades da referida loteria, que depois se mudou para a Rua Santo Antônio, onde se guardavam cereais, bicicletas e bancas e barracas desmontáveis pertencentes a vários feirantes; em frente ao qual e na calçada, na primeira metade da década de 70 o meu tio Marcelino fundou a Feira do Troca-Troca, que ali funcionou até meados da década atual, sendo recentemente transferida para outro local. Era justamente ali (no primeiro e segundo “armazém”) que nós familiares em viagens sucessivas, entre o meu bairro e o centro da cidade nos jipes da marca Willys Overland/Jeep Willys do meu pai, nos reuníamos nos sábados e nas saudosas noites de Natal da minha infância e adolescência.

Lembro-me de que, às vezes, chovia copiosamente na Noite de Natal, e nós íamos felizes no jipe do meu pai. Era bom também ouvir o barulho agradável dos pingos da chuva na capota do veículo e ver o limpador de parabrisa em ação.

Tudo era lindo, tudo era maravilhoso, boas lembranças...

Velhos tempos! Quantas recordações e saudades!

Picos-PI, 10 de outubro de 2008.

Edimar Luz

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 08/10/2021
Reeditado em 09/10/2021
Código do texto: T7359468
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