1 - Rascunho para Réquiem

Vou dizer algumas palavras aqui para tentar consolar dois tipos de coração neste momento difícil de despedida.

Essas palavras são minhas, mas foram inspiradas nos textos consagrados de um gigante mineirinho: Rubem Alves.

Primeiro, para os corações que não acreditam em Deus, ou tem dúvidas. Para estes, eu vou contar minha própria história.

Eu nasci em 1982. Desde o início do universo, há bilhões de anos atrás até 1982, eu não me lembro de ter sofrido nenhuma vez. Quando eu me for deste mundo, deixando de existir, não há porque pensar que haverá sofrimento, pois o que não existe tampouco sofre. Assim como era antes de eu nascer. Ainda, após minha morte, podem se passar mais bilhões de anos e, quem sabe, eu possa nascer outra vez e voltar a gozar das belezas da existência?

Dessa forma, nada tenho a temer perante a morte.

Para os corações que acreditam em Deus, numa Consciência Suprema, digo que primeiro precisamos enxergar a Deus de verdade.

Deus é aquele que criou o entardecer, com suas cores avermelhadas

Aquele que criou os pássaros e seus cantos

Um riachinho correndo manso no meio de um bosque, espalhando sua canção pela brisa

A chuva tranquila, tamborilando num telhado durante a noite

A brisa do mar e o reflexo de uma lua na lagoa

Deus é aquele que permitiu aos homens criarem as mais belas canções

Os mais agradáveis instrumentos musicais

As vozes que cantam como anjos

As mãos que eternizam belas palavras

A beleza que condensa no silencio entre um casal

A afinidade que decanta do não falar entre dois amigos.

Enxergando Deus assim, através de um poema, eu resumo: Deus é amor. E chego à mesma conclusão de muitos outros antes de mim. Se Deus é amor, nada tenho a temer após minha morte aqui, neste mundo.

Em todos os casos, não há o que temer. O sofrimento pertence à vida. A morte sela a vida, como uma carta fechada a ser entregue ao correio. Dentro da carta, vai o amor que se sentiu em vida, a bondade dos corações, o calor do afeto, o carinho dos pais, irmãos, amigos... Mas vai também a dor, o sofrimento.

Alívio! Saudades! O carteiro chegou. Ele abre sua bolsa, pega a carta selada, e parte.