2 - A Imaginação

Eu diria, num balcão de bar, que a imaginação é algo insubstancial que cria substância... e tomaria minha cerveja. Mas agora não estou num bar.

Assim como a consciência, a imaginação é um processo resultante de um elaborado mecanismo cerebral. Poetas a vêem de um lado, cientistas a vêem de outro, e todos se encantam e ficam felizes com ela.

A imaginação traz à existência uma beleza ausente no mundo animal. Animais são lindos e simples. O ser humano é complexo, imaginativo, sofrido. Por isso transcende o mundo, o ser humano, criando uma maravilha à qual deu o nome de arte. Arte com consciência, em paralelo à arte inconsciente da natureza.

Eu tento entender a imaginação. Penso que ela traz o que existe de dentro do que não existe. Daí fico pensando. Como é que algo pode residir na floresta da não existência?

Pensando de outra forma, a imaginação poderia criar o que antes não existia e, assim, invoca-lo à existência. Isso nos tornaria deuses? Pois aprendi nas aulas de ciências que na realidade nada se cria, tudo se transforma. Então estamos criando do nada através das ferramentas do aparato cerebral. Ninguém ainda me informou que sou um deus.

Ainda pensando na imaginação, ou imaginando o pensamento: como será existir estando contido na não existência? O tudo está contido no nada ou o nada tem lugar no tudo? Pois, sendo o universo finito, em algum ponto espaço temporal ele findaria. Conclui-se que, atravessado este ponto final, vem o nada, a não existência. Então o tudo está no nada.

Pelo contrário, se o nada está no tudo, então o nada não seria nada, e sim algo. Se o universo é infinito, a existência não tem fim - o nada não existe. Será que eu consigo compreender esta afirmação: “o nada não existe”?

Trazer o que não existe de dentro do cofre da não existência é um trabalho que pede duas coisas. Primeiro, a chave do cofre. Segundo, ser capaz de enfiar a mão nele, pegar algo e de lá puxar. Ao cruzar as bordas da porta do cofre, há de se possuir um elixir mágico misterioso capaz de transformar o que não existe em coisa que existe. Essa é a última barreira para transpor estes dois mundos.

Muito já deve ter sido escrito sobre a Chave e o Elixir. Pois estas duas essências estão no domínio do universo contido na mente humana, e são ferramentas básicas para qualquer processo criativo. É possuindo estes artefatos que se faz o milagre da criação: arte!

O cofre está lá, logo ali, em qualquer lugar a todo tempo. Todos podem vê-lo, muitos o admiram, outros o desejam com violência. E se aventuram, muitos outros, a tentar abrí-lo de outras maneiras. Mas a esse cofre não se presta maçarico ou aríete. Aconselharia livros, tomados em doses regulares, frequentes, lentas e prazerosas.